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“Parintina” Abatida no Curral do Garantidooo boi Garantido foi contagiado pela pauta de costume e da moralidade afoita dos bolsonaristas

Por: Ademir Ramos

Professor, antropólogo, coordenador do projeto jaraqui, do NCPAM/UFAM vinculado ao Dpto. de Ciências Sociais.

“Parintina” Abatida no Curral do Garantidooo boi Garantido foi contagiado pela pauta de costume e da moralidade afoita dos bolsonaristas

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Ademir Ramos

Pressionado pelos torpedos da “guerra cultural” e pelo impacto estimado no mercado de bens simbólicos, a direção do Boi Garantido, em respeito aos costumes e valores religiosos fundamentalistas, resolveu abater a toada “Parintina” de Chico da Silva e Mário Paulain, extraindo, em definitivo do seu álbum e de suas plataformas digitais, dando publicidade da condenação da obra e de seus autores tal como era feito nos tempos da inquisição.

O movimento “guerra cultural” que iniciou nos Estados Unidos da América no anos 90, pautado nos conflitos morais como a questão do aborto, à posição da mulher na família e na sociedade, à sexualidade, direitos da população lgbtqi+ e outros, eclodiu no Brasil, politicamente, a partir de 2001, com a III Conferência Mundial das Nações Unidas contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, ganhando corpo e musculatura em 2018 com a campanha de Bolsonaro para presidência do Brasil sob o lema deus, pátria e família.

Nesse contexto lembramos as falsas discussões sobre “mamadeira de piroca”, do “kit gay” e da “ideologia de gênero” espalhando o terror nas mídias sociais, qualificando o governo do PT como antro da imoralidade, da corrupção e dos valores sagrados da família e o pior com ressonância social.

Com a vitória do bolsonarismo a praga se multiplicou atingindo os artistas. É impossível não lembrar o discurso do dramaturg Roberto Alvim no ano de 2020 durante o lançamento do Prêmio Nacional das Artes. Ele que estava à frente da Secretaria Especial de Cultura, reproduziu trechos de um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista.

No governo Bolsonaro registramos vários “constrangimentos” no campo das artes, cultura, literatura e da produção cinematográfica com dirigismo e censura. Não esqueçamos que um dos primeiros atos foi acabar com o Ministério da Cultura reduzindo a uma Secretário Especial ungida pela vocação de ódio nazista do Roberto Alvim contra os artista e produtores culturais.

A decisão dos mandatários do Boi Garantido não é um fato isolado e nem tampouco pessoal. Politicamente está inserido nesse universo da “guerra cultural” que se multiplica por todo o mundo nas bandeiras dos movimentos partidários prisioneira de um passado a se projetar fora da história como bastião moral da humanidade, justo e capaz de instituir como norma geral e medida de todas as coisas com manias, crenças e devoção em nome de uma ordem golpista tendo a censura e ódio como escopo de uma política cultural seja da extrema direita ou esquerda, somos contrários.


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