transferir
Sobre a Economia Verde

Por: Michele Lins Aracaty e Silva

Economista, Doutora em Desenvolvimento Regional, Docente do Departamento de Economia da UFAM, ex-vice-presidente do CORECON-AM.

A Economia da Moda

moda-dois

A moda reflete os desejos e comportamento de uma sociedade, gera emprego e renda contribuindo de forma direta e indireta para impulsionar toda uma cadeia econômica.

O mercado da moda apesar de ser economicamente relevante é um dos maiores poluidores, ficando atrás apenas do setor petroquímico.

Para se ter uma ideia, o setor é responsável por 20% de toda a produção de esgoto do mundo, por 10% da emissão de carbono, desperdiça o equivalente a um caminhão de lixo têxtil por segundo.

A atividade impacta sobre a água e seus ciclos, gera poluição química e contribui para a perda da biodiversidade uma vez que conduz ao uso excessivo ou inadequado de recursos não renováveis e por fim, já no final da cadeia, gera resíduos.

O movimento fast fashion ocorrido na década de 1990, contribuiu para elevar o impacto da atividade sobre a economia, a sociedade e sobre o meio ambiente pois introduziu um modelo de produção, consumo e descarte mais acelerado e com reposições de coleções não mais sazonalmente ou mensalmente, mas sim semanalmente.

Por fast fashion entende-se a moda rápida do varejo que designa a renovação constante das peças a serem produzidas, consumidas e descartadas com rapidez.

Analisando economicamente, as peças de vestuário representam um dos maiores faturamentos no e-commerce, com vendas que crescem em média 11,4% ao ano e tem a expectativa de faturar até 2025 o equivalente a US$ 1 trilhão.

De acordo com dados da Fundação Ellen McArthur, a produção de roupas dobrou nos últimos 15 anos e foi impulsionada pelo crescimento da classe média em todos os países do mundo bem como pela alta das vendas per capita nos países desenvolvidos. Se a estimativa de crescimento do PIB global de 400% até 2050 se concretizar, elevará ainda mais a demanda por vestuário (cenário antes da pandemia).

Apesar de toda a importância, a moda é muito pouco explorada por estudos econômicos e não temos conhecimento de todos os seus efeitos ao longo da cadeia. Recentemente, despertou-se um certo interesse visto a ascensão da indústria criativa que está direta e indiretamente ligada ao segmento da moda.

O estudo da economia da moda também nos faz refletir acerca do encadeamento da produção, distribuição, circulação, consumo e descarte dos produtos bem como das relações mercadológicas entre o centro e a periferia do sistema capitalista.

A partir da crise de 2008, devido à um redirecionamento do mercado internacional, o Brasil entra no circuito global de moda e passa a ser um dos mais importantes países do mundo a receber e consumir tanto a moda estrangeira de luxo como a fast fashion (FALCONE, 2019).

No Brasil, o mercado da moda é o segundo maior gerador de empregos, com salário médio inicial de R$ 1,3 mil, mas que pode passar dos R$ 10 mil para os mais experientes. A expectativa é de mais de 300 mil novos empregos até 2025, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

Além dos pontos abordados anteriormente, cabe a reflexão acerca dos impactos negativos da economia da moda na esfera social pois milhares de pessoas são expostas a condições subumanas de trabalho.

De acordo com a Ong Remake, 75 milhões de pessoas trabalham na produção de roupas no mundo, 80% são mulheres entre 18 e 24 anos. Em Bangladesh, a mão de obra recebe em torno US$ 96 por mês.

Neste mesmo cenário, existe um movimento ligado à moda sustentável que vem ganhando força entre as grandes fabricantes. Tal movimento, não atende somente ao consumidor consciente que busca consumir produtos que causem um menor impacto socioambiental também fomenta a necessidade de um reposicionamento estratégico das empresas na cadeia produtiva global.


Qual sua Opinião?

Confira Também