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Fran Paxeco

Por: Robério Braga

Membro da Academia Amazonense de Letras (AAL), advogado e ex-secretário de Cultura do Amazonas

Contra a Idolatria

A religião católica que se instalou em Manaus com a capela de Nossa Senhora da Conceição, primeiramente edificada pelos jesuítas e assumida pelos carmelitas, por volta de 1695, anos depois teve que enfrentar no seio de sua própria organização e diante dos fiéis que seguiam suas orientações – e era praticamente toda a população manauense -, teve de enfrentar larga reação de padres e religiosos em geral contra a idolatria que vinha sendo conferida às imagens dos santos dispostas em seus altares, na sua maioria em composições artísticas modestas, e isso porque às vezes recebiam maior devoção do que as conferidas a Jesus Cristo e a Nossa Senhora, a santa padroeira do lugar.

Com a intenção de corrigir o que parecia ser distorção da manifestação da própria fé e para evitar desvirtuamentos do uso das imagens dos santos católicos, em Santa Missa de 13 de janeiro de 1860 o padre Romualdo Gonçalves de Azevedo – grande pregador -, perorou nas novenas da paróquia de São Sebastião sobre os pecados cometidos pelos fiéis que se punham a confundir o culto de Deus com a veneração e o respeito aos santos, afirmando que se mantinha “na esperança de que de uma vez desapareçam tais escândalos da casa do Senhor”.

Na mesma ocasião, e com autoridade religiosa, social e política que possuía, “reclamou dos cristãos que dobravam um só joelho diante do Santíssimo Sacramento e ao invocar o nome de Maria prostavam-se em terra com ambos. Pretendendo elucidar os católicos conforme a sua opinião e orientá-los quanto à prática religiosa que entendia correta, Dom Romualdo explicou que “a hóstia e SS. Maria é sem dúvida muito digna dos nossos respeitos e homenagens”, mas concluiu que o culto a ser então tributado era e deveria ser inferior ao culto a Jesus Cristo.

Reclamou, direta e efetivamente, de certa idolatria que os católicos de então estariam manifestando em relação aos santos, e que a instrução dos mistérios da Igreja exigia essa correção. E mais, disse quais são as três espécies de cultos: o de Deus chamado Latria; o da SS. Virgem que é a Hiperdulia e o dos Santos, que se denomina Dulia.

Deus é o criador; Maria Santíssima deveria ser venerada como a criatura que antes de toda a criação já existia criada na mente do Criador; e aos Santos, dever-se-ia venerar como amigos de Deus. E explicava que “as imagens de Maria Santíssima e dos outros santos colocados sobre os altares das sedes das igrejas só serviriam para despertar ou avivar mais em todos os professantes da fé católica as lembranças das suas virtudes, e a de que sendo mortais como qualquer ser humano, estariam gozando da vista de Deus em espírito, “menos a SS. Virgem que é de Fé, foi em corpo e alma levada pelos anjos a mansão celestial”.

No mesmo sermão, com as famílias postas em sinal de respeito, homens em trajes de domingo e senhoras cobertas com véu e bem compostas, ele explicava: “é, portanto, errada a opinião e um erro assaz grosseiro, anticristão, e finalmente idolatria, supor que as imagens outra cousa são além do simples retrato dos Santos, que representam”.

Era uma pregação que deveria ser necessária, à vista dos defeitos da moral cristã daqueles anos, em uma cidade acanhada, recém categorizada, em meio a floresta mais densa dentre as conhecidas, e, ao mesmo tempo, nascida sob a proteção de São José e depois sagrada a Nossa Senhora da Conceição.

Aliás, há muitos sermões de Dom Romualdo Gonçalves de Azevedo que bem mereciam ser comentados.


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