Violência contra mulher no Amazonas cresce 33% no primeiro semestre de 2021

Violência contra mulher no Amazonas cresce 33% no primeiro semestre de 2021

De 12.835 casos registrados, 11.977 são de Manaus

Confinamento da pandemia aproxima a vítima do agressor

Durante o primeiro semestre de 2021, o Amazonas registrou 12.835 casos de violência doméstica contra a mulher, a maior parte em Manaus. De acordo com dados coletados no site da Secretaria de Segurança Pública (SSP), somente na capital amazonense houve 11.977 registros de algum tipo de ocorrência contra a mulher. Em comparação com o mesmo período de 2020, houve um aumento de 33% nos casos.
Buscando compreender a alta nos números, o ÚNICO conversou com a delegada Débora Mafra, responsável pela Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher. Ela explicou à reportagem que o confinamento causado pela pandemia acentuou os casos de violência não somente no Amazonas, mas em todo o país.
“Durante a pandemia, os números no Brasil relacionados à violência doméstica aumentaram na proporção de um terço, e no Amazonas também. Em Manaus, o motivo maior foi o isolamento social que deixou a vítima muito mais tempo no mesmo ambiente do agressor”, disse Mafra, que prosseguiu: “Toda vez que acontece isso, a vítima leva a pior, pois o agressor tende a cometer mais e mais violência, cada vez que eles estão juntos e por muito tempo”, disse ela.

Mais mulheres denunciando

Embora o aumento da violência denunciada seja preocupante, a delegada considera positivo o fato de que as mulheres estão mais encorajadas a denunciar os agressores. “Essas mulheres tiveram coragem e denunciaram seus agressores. Antes, era uma dificuldade muito grande. Sempre houve violência doméstica, mas as mulheres não tinham coragem de denunciar e agora elas estão tendo essa coragem , mesmo na pandemia quando parou o isolamento, o primeiro ato foi denunciar a violência sofrida dentro de casa” disse a delegada.

Padrão de agressores

Débora Mafra disse ainda que a média diária de atendimento na Delegacia da Mulher é de 60 casos. “Elas relataram o tipo de violência que elas vinham sofrendo, que são cinco tipos principais: física, moral, psicológica, sexual e patrimonial. Os boletins mais registrados foram sobre violência psicológica”, disse ela.
A delegada aponta que os agressores têm um padrão de atitudes que tomam para evitar a denúncia. “Os nossos investigadores sempre identificam o padrão dos agressores, o maior índice de registros que foram notificados, foi de violência psicológica, seguido da violência moral e física. Porque quando a mulher é atingida fisicamente, ela geralmente também é atingida moral e psicologicamente. O perfil dos agressores são os mesmos, são trabalhadores contumazes com vida profissional ativa, mas quando fecha a porta são uns monstros. Violentam o grupo de vulneráveis, principalmente mulheres, e eles também gostam de isolar a vítima, tanto de amigos, tanto da família, para que ninguém fique sabendo o que está acontecendo”.

Denúncias evitam o feminicídio

Com receio de denunciar seus parceiros agressores, boa parcela das mulheres acaba cedendo às ameaças e por vezes acabam sendo vítimas de feminicídio. Débora Mafra comentou sobre esse ‘tabu’ e defendeu que haja um encorajamento para que as vítimas possam enfim denunciar seus algozes.
“Muitas mulheres ainda têm medo de denunciar os seus parceiros, porque elas acreditam que todas as ameaças feitas por eles a elas vão se concretizar, então elas têm medo de ir à delegacia expondo o que ocorreu por medo das ameaças. Temos que encorajá-las a denunciar, porque na verdade, a maioria das mulheres que morrem por feminicídio nunca denunciaram seus parceiros, não somente em Manaus, mas como no Brasil. São mais de 95% das vítimas que nunca denunciaram o seu parceiro e acabaram morrendo por feminicídio”, disse a delegada, explicando que é necessário fazê-las conhecer os mais variados mecanismos de defesa que a justiça tem, para protegê-las dos agressores.
“Temos que mostrar a elas que a Delegacia da Mulher está de portas abertas. Que vai fazer as buscas de pertences pessoais, como documentos e roupas, para ela e para os filhos. Vai realizar o B.O, vai solicitar as medidas protetivas de urgência, a ronda Maria da Penha estará fazendo a segurança e visitando essas mulheres, fiscalizando as medidas protetivas, tem abrigo para o caso de estarem correndo riscos e não terem onde ficar, tem o aplicativo alerta mulher, dentre outros, é uma gama de serviços que só faz a mulher ir para frente, deixando a violência para trás, tornando-a uma nova mulher”, finalizou.


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