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A insanidade da guerra

Por: Walmir de Albuquerque Barbosa

Professor Emérito da UFAM; Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo(USP); Graduado em Jornalismo pela UFAM.

Tributo ao “Efeito Moral Sensível da Cor

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“Numa folha qualquer/Eu desenho um Sol amarelo/E, com cinco ou seis retas/É fácil fazer um castelo..”, letra de Toquinho e música de Vinícius de Moraes, inicialmente inebria nossas mentes e nos transporta a um lugar de encantos infantis e paraísos perdidos no tempo. A cor é mágica! Plotino, filósofo de influência grega (sec. III), via na cor um “fenômeno divino”. Mas, para falar das cores, temos que falar da Luz. Dela falando, vale recorrer ao “Século das Luzes”, e nele lembrar Johann Wolfgang von Goethe (Doutrina das Cores: Apresentação, seleção e tradução de Marco Giannotti. SP: Nova Alexandria, 4a. Edição, 2013), gênio da literatura romântica e da filosofia iluminista alemã, que, ao preocupar-se com as cores, “transfere o olhar divino de Plotino, até então representado pela luz, para o interior de nossa visão: o olhar se torna luminoso: Se o olho não tivesse o sol/Como veríamos a luz?/Sem a força de Deus vivendo em nós,/Como o Divino nos seduz?”. Mesmo assim, Goethe reconhece que “sempre foi algo perigoso tratar da cor, a ponto de um antepassado ter certa vez ousado dizer que ‘o touro fica furioso ao ver o pano vermelho, mas o filósofo se torna irado tão logo se fale de cor’”. Para Goethe, os “círculos cromáticos feitos a base de aquarela” demonstram a relação entre as “manchas cromáticas” e as nossas faculdades: razão, fantasia, entendimento e sensibilidade; relacionando, também, com o belo, o nobre, o necessário, o comum e o bom. Enfim, para Goethe, a cor é ação e paixão, sensibilidade e ética. O pensamento filosófico, científico e prático, nos ajudam a entender melhor os seus efeitos no cotidiano. Está nas roupas, está nas ruas, está na paisagem, no marketing, nas obras de arte, na pele das pessoas, no rubor da face, na economia política em geral; no gasto público e na publicidade. Em tudo!

Certo episódio envolvendo as cores está galvanizando a opinião dos manauaras: o logotipo da gestão municipal, representado por um mosaico de cores fortes e em tom pastel, tornou-se a identidade visual da gestão do atual prefeito da Capital Amazonense. O caso envolve gasto do orçamento da cidade em possível ação de propaganda política, ao aplicar o logotipo da gestão em tudo que pode ser visto por eleitores em potencial: calçadas das ruas e das praças, prédios públicos; veículos a serviço da prefeitura como automóveis, caçambas, tratores, escavadeiras etc., além dos timbres nos documentos oficiais, em prejuízo do selo da Cidade de Manaus, como representação de poder político oficial. Assim, o marketing político apropriou-se das cores como operadores de consciência e de paixão político-partidária e culto à personalidade, ao mesmo tempo, gerando o seu contrário: cidadãos contribuintes que recusam o excesso de uso do discurso operado pelo mosaico colorido e o consideram uma poluição visual e política, gasto supérfluo. O confronto de cores forte com cores pastel, no dizer dos criadores do logotipo, quer expressar ser Manaus, “a terra dos encontros: dos rios e dos corações”, “a terra onde mora o sol e renasce todo dia a esperança”.

É certo que o Senhor Alcaide não está inovando, embora tenha que prestar contas com os órgão de controle da coisa pública, esta tem sido uma prática, além de permitida pela Justiça, corriqueira da política nos últimos tempos. E as cores têm servido como pálio de lutas políticas ideológicas, lutas identitárias e até como “apito de cachorro”, em situações criadas pelo submundo da política e da violência.  Recentemente, cores tradicionais da nacionalidade foram apropriadas por grupo político de tendência bem marcada. Com o desgaste político decorrente do uso exagerado das cores nacionais, este mesmo grupo, parece ter evoluído para uma paleta de cores chamada de “Paleta Zelensky”, que lembra as cores da indumentária do líder da Ucrânia.  No caso de Manaus, num passado mais remoto, o Diretor do Departamento de Trânsito, que pela primeira vez sinalizou a cidade, em obediência ao Código Nacional de Trânsito, foi apelidado de “Macaxeira”, em homenagem a um morador de rua, que tinha o bom gosto artístico de pintar o chão das ruas, com restos de tinta que adquiria nas construções espalhadas pela cidade. Assim, as cores falam,  tornam-se discurso e aguçam as nossas faculdades, como nos dizia Goethe.

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