Colunista
Transplante no Amazonas – Parte 07

Por: Fabiano Affonso

professor, engenheiro agrônomo, pós graduado em comunicação e metodologia da extensão rural, especialista em projetos de reforma agrária e especialista em política e estratégia, autor da cartilha “Latifúndio na Amazônia”.

Transplante no Amazonas

CHN transplante de órgãos medula óssea

É incontestável que essa é a história da minha vida.

No ano de 2000 fui acometido por um cálculo renal, em 2001 minha médica propôs usar a melhor tecnologia da época, litotriplicia (pulverização do cálculo pelo som) e expelir a areia em tamanhos menores no cálculo renal e o que foi realizado com pleno êxito no procedimento.

Ainda assim, em 2003, por causa de uma hipertensão mal tratada, fiquei hipertenso e renal crônico.

Existem 5 fases para um renal crônico, eu fui diagnosticado como rena crônicol dois, tratado com dieta (comida com pouco sal) e remédios hipertensivos.

Em 2018, com o agravamento da minha saúde, fiquei renal crônico 5 (dialítico).

Só tinham dois tratamentos: transplante ou diálise.

Até este momento eu só tinha conhecimento da hemodiálise como tratamento disponibilizado por várias clínicas em Manaus e me gerava um certo desespero ver tantas complicações de um paciente que fazia hemodiálise, sendo a disponibilidade de pelo menos 4 horas por 3x por semana.

Eu me achava na plenitude de compartilhar meu conhecimento, ao fazer a consulta com uma nefrologista numa clínica renal, ela me apresentou uma terceira opção, a diálise peritoneal, que me ganhou pois eu poderia fazer o tratamento em casa.

Depois da convivência, com este tratamento, descobri que meus dias de banho de rio tinham chegado ao fim (isso sempre foi algo que eu prezei muito), e minhas noites de sono também, pois o tratamento consistia em ser por osmose por meio da membrana peritoneal, onde ficava durante 9 horas ligado à máquina, com duas bolsas com líquidos com concentração de glicose passando pelo meu corpo e eu tinha uma liberdade de 3 metros pelo catéter que me ligava à máquina (conseguia ir ao banheiro, escovar os dentes)

Todas as noites, eu era assessorado pela minha esposa que não abria mão de “me colocar na máquina”, desde então reconheci que ela passou a ser meu anjo da guarda juntamente com o enfermeiro Fábio que atendia ao telefone a qualquer hora do dia ou da noite em situações difíceis em lidar com a máquina.

Além disso, realizava exames de sangue mensalmente e com o resultado da diálise, a nefrologia indicava ou suspendia algum medicamento.

Os anos passaram e procurei soluções no transplante. Descobri que o SUS possuía um programa de Tratamento Fora do Domicílio (TFD), que funciona efetivamente.

Registre-se que à época, só a capital do Amazonas não possuía o programa de transplante, mesmo já existente em épocas passadas, mas contra os princípios do SUS, pois era em uma clínica particular.

Fiz a inscrição e entre família decidimos onde faria: Fortaleza

Escolhemos lá pois sabíamos do tempo de recuperação e temos estrutura familiar lá e também pelo clima mais semelhante com o de Manaus.

Com a senha da inscrição, acompanhávamos o processo online e no 5o dia o processo não havia movimentação. Com isso, procurei a sede do TFD em Manaus, onde explicaram que administrador do programa é o Governo do Estado e o Governador à época, atual Ministro da Educação, aquele que declarou na TV que 4+8 é igual a 11, baixou uma norma exigindo comprovante de residência e tinha como base que os pacientes candidatos à transplante precisavam ser residentes do Ceará.

Fui orientado que o transplante que mais realizava transplante renal era o Hospital do Rocio, no Paraná e assim decidimos entre família mais uma vez que alteraríamos a inscrição pra lá e com menos de 30 dias marcaram os primeiros exames e a consulta e a equipe local do TFD muito eficiente, providenciou passagem para que eu e minha acompanhante fossemos para Curitiba com uma ajuda de custo.

Voltei em êxtase, empolgado com a qualidade do hospital e do tratamento.

Em pouco tempo marcaram minha segunda consulta em Curitiba, também recebendo as passagens e ajuda de custo e isso se repetiu por 8 vezes.

Na 8a. viagem à Curitiba tomamos conhecimento que o Hospital Delphina Aziz, em Manaus estava realizando transplante renal inter-vivos, mas não valorizamos à época.

A partir disso, minha saúde foi se depreciando, fiquei com dificuldade para andar, chegando a ficar dependente de cadeira de rodas.

Por ter um filho médico uma das nefrologistas do programa era amiga muito próxima dele, e com isso nos interessamos pelo programa do Delphina. E que show de acolhimento.

Em 30 dias já havia realizado todas as consultas e exames, com a marcação do transplante para o dia 05 de dezembro de 2023.

Internamos dia 04, na véspera e com uma atitude louvável, meus filhos se prontificaram em ser doadores e deram compatíveis, sendo que a Lucyana foi escolhida para ser a doadora por critérios técnicos.

Realizamos o procedimento como programado, onde transcorreu em pleno êxito e registra-se com um lindo acolhimento de todas as equipes do hospital.

Na véspera da minha alta hospitalar, convulsionei por motivo até hoje não esclarecido, provavelmente pelo íon magnésio estar abaixo do normal nos meus exames.

Em pleno êxito do meu transplante,  começava uma etapa não imaginada.

Baixei UTI, permanecendo por 3 semana, onde foi intubado e extubado. Senti mais uma vez comprometimento das equipes de apoio aos transplantados (TX).

Privado da alimentação, toda a minha musculatura foi consumida, o que me deixou com sequelas na parte motora e de alimentação, pois não consigo deglutir, e isso ainda impede a minha alta hospitalar.


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