Atualmente tenho dado ênfase à Política de Assistência Social por estar inserida diretamente nesse espaço. Com a responsabilidade coordenar um Centro de Referência de Assistência Social na cidade de Manaus, despertei ainda mais à reflexões sobre essa temática. Há muito a ser dito no sentido de psicoeducar os usuários acerca de seus direitos, mas também dos deveres inerentes a esses. Enquanto a Assistência está para quem dela necessitar, essa política construída com tanto zelo com vistas ao desenvolvimento da cidadania plena, não pode ser banalizada.
Cada servidor público envolvido na execução de Políticas Públicas precisa ser preparado, capacitado, ter plena consciência do dever, das premissas desse serviço, da ética e humanidade que devem pautar sua conduta. A muito que está claramente traçada a linha entre assistência social e assistencialismo, aquela “velha cultura” de “dar coisas”.
Estamos em tempo de orientar as pessoas sobre como pescar, ao invés de trazer lhes o peixe apenas. Contudo não é incomum encontrar pessoas distribuindo alimento e donativos aos mais necessitados.
Esse ato não é proibido e não configura crime. Não é algo que deva ser combatido como um erro. Mas é importante salientar que isso não é Assistência Social. E ainda alertar para os cuidados dessa prática com finalidades questionáveis, com registros de imagem feitos de forma irresponsável por exemplo, e que acabam por expor a pessoa necessitada e deixa-la ainda mais vulnerável.
Não replique esse tipo de postura. Encaminhe a pessoa ou família necessitada aos órgãos competentes. Leve-os até a Sede da Secretaria da Mulher, Assistência Social e Cidadania do município de Manaus, ou um dos vinte CRAS da cidade. Nesses espaços para além da possibilidade de um auxílio imediato, essas pessoas receberão orientação e suporte para superarem a fase de vulnerabilidade em que se encontram. Isso sim fará a diferença efetivamente na vida de alguém.
É preciso coragem para fazer a diferença. Isso diz sobre responsabilidade. Sobre o sentimento de dever que cabe à família, às autoridades e à sociedade de modo geral. Quando esse sentimento de que todos nós estamos inseridos em uma sociedade da qual somos parte, afetamos e somos afetados, é prejudicado, presenciamos injustiças, desigualdades e calamidades que atingem a todos de alguma forma. Passamos uma vida lutando por saúde, conforto, segurança, quesitos básicos muitas vezes de sobrevivência. Mas viver de forma plena é uma experiência social. Portanto exige que nossos pares experimentem oportunidades de acesso e desenvolvimento.
É na cidade que vivemos. E temos hoje uma gestão municipal trabalhando constantemente para que Manaus ganhe destaques positivos. Mas a construção de uma cidade melhor depende de uma colaboração coletiva. Enquanto os filhos dessa terra não superam suas vulnerabilidades, enquanto tivermos uma cultura pouco disposta a cuidar e conservar o que nos pertence, enquanto nossas crianças estiverem nas ruas ao invés de nas escolas, enquanto os responsáveis familiares não conseguirem colocar alimento e esperança em seus lares, é difícil vivenciar uma realidade diferente.
Por isso escrevo, por isso falo. Por isso acredito na transformação possível a partir do acesso e conhecimento acerca das políticas públicas. Quando esse pensamento e disposição estiverem presentes na execução de cada função e nas atitudes de cada cidadão, seremos elos para a construção de uma Assistência mais forte e uma Manaus mais inclusiva.