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A magia das folhas de canarana

Por: João Melo Farias

João Melo Farias Poeta e indigenista.

Segredo é segredo.

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Em 1.992 o Prefeito Municipal de Barreirinha era o Defensor Público Gilvan Geraldo de Aquino Seixas, ou melhor, o “Dr. Gilvan” como ele gostava de ser chamado. O vice-prefeito era um caboclo que atendia pelo nome de Manoel João, proprietário do famoso barco/motor Comandante Jaderson, que fazia a linha Barreirinha-Manaus-Barreirinha. E o mesmo colecionou naquele época de substituição do titular da Prefeitura uma série de situações atípicas, entre elas, este.

O Dr. Gilvan foi chamado pelo Governador da época a capital, Manaus, para apresentar uma inovadora proposta de trabalho. Antes de viajar discutiu a proposta com o vice-prefeito e os vereadores do município até chegarem a um consenso do quê era melhor para Barreirinha. Então, mandou datilografar a proposta, que batizou de “Nova Barreirinha” e a trancou no cofre do Gabinete do Prefeitura.

O dia aprazado da viagem chegou e o Prefeito foi para Manaus, porém esqueceu de levar consigo o projeto “Nova Barreirinha”. O Governador, ao despachar com o mesmo cobrou a proposta. O prefeito imediatamente ligou para Barreirinha e falou para o vice-prefeito:
— Manoel, você lembra no nosso projeto, aquele que discutimos, aprovamos e deixei aí no cofre do gabinete da Prefeitura? Pois é, estou despachando com o Governador e preciso dessa proposta em 20 minutos aqui em Manaus.
O vice-prefeito muito solícito respondeu:
— Lembro sim meu Prefeito. O quê o senhor deseja?
— Vá ao meu Gabinete, tira o envelope do cofre, escreve em cima “SECRETO”. Depois passa ele para mim pelo fac-símile da nossa sala para o gabinete do Governador. (E ditou o número do fac-símile do Governador). Naquele tempo o fax como era dito popularmente era o meio de comunicação mais moderno e eficiente.
— Tudo bem Dr. Gilvan vou já lhe passar. Seu desejo é uma ordem.

Ocorre que o vice-prefeito tinha “habilidades” muito peculiares. Ele tirou o envelope do cofre, chamou secretaria do gabinete e lhe disse:
— Dona Rosinha a senhora pode escrever bem grande e bonito em cima deste envelope “SECRETO”?
Depois a senhora envia ele assim mesmo, fechado, para o fac-símile do Governador.
Ela candidamente perguntou:
— Lacrado?
E ele lhe respondeu:
— Sim dona Rosinha, lacrado, ordem do Dr. Gilvan.
Ela conhecia muito bem os dois. Calculou o tamanho do imbróglio, mas deu de ombros e assim fez, sem questionar mais o chefe imediato.

O vice-prefeito ao ver que dona Rosinha tinha cumprido sua ordem, pegou o envelope de volta, trancou-o no cofre do gabinete do Prefeito e foi para sua residência almoçar. Sua casa distava apenas 400 metros do prédio da prefeitura. E estava ele apreciando uma cabeça de tambaqui, quando o telefone de sua casa tocou, sua esposa atendeu e antes de lhe passar o fone, disse:
— Manel é o Dr. Gilvan e parece que ele está muito puto.
— Alô Prefeito, o quê está ocorrendo?
— P…a Manoel João uma coisinha simples e você não é capaz de executar. Cadê a p…a do projeto?
— Mandei faz uns 20 minutos para Manaus, conforme a sua ordem.
— Manel não chegou p…a nenhuma aqui, somente uma folha de papel escrito em cima SECRETO. Cadê o projeto?

Seo Manoel, sem perder a calma, candidamente respondeu:
— P…a Gilvan, o senhor não disse que essa p…a era secreto? O projeto está dentro do envelope, lacrado, escrito como você mandou: SECRETO!


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