No auge de seus 353 Manaus tem uma riqueza imensurável de histórias, culturas, miscigenação, transformação. Todos os anos celebramos em tempo e fora de tempo a existência desse lugar que plantado no coração da Amazônia, por nascimento ou escolha, tanta gente chama de lar.
Com uma população superior a dois milhões de habitantes, a capital do Amazonas, é a cidade mais populosa da região norte e Amazônica. Essa população é crescente tanto em virtude dos filhos da terra, como de populações estrangeiras, principalmente venezuelanos que se abrigam e constroem uma nova vida por aqui. Encantadora como ela só, e com um povo hospitaleiro, nossa Manaus tem muito a oferecer.
Mas como em outros cantos, por aqui temos nossos altos e baixos. As vezes é fácil posicionar a câmera e dar close naquilo que temos de mais belo. A cidade tem ganho ultimamente mais brilho e cor. É de encher os olhos. A pergunta é: o que escolhemos ver? Para onde está voltado o olhar de cada pessoa que mora ou visita esse lugar? O que estão vendo nossas autoridades constituídas? E os parlamentares eleitos com a tão importante função fiscalizadora?
E para falar isso, não desejo me utilizar de títulos ou funções, prefiro nesse momento ocupar o lugar de fala de cidadã, de filha daqui. De ativista social. De alguém que acredita em renovação, que sonha com uma cidade mais inclusiva e acolhedora. Um lugar seguro e capaz de florescer as esperanças plantadas em seu chão. Digo isso porque depois da noite e madrugada do dia 12 de março, não somos os mesmos. Não podemos ser. Quando aquele barranco desabou na zona leste de Manaus, soterrando sonhos, infâncias, vidas… não pudemos virar o rosto para outra direção. Não é possível desviar o olhar desse cenário que retratou Manaus de um jeito que talvez ninguém queira ver.
A despeito da beleza e dos coloridos que nos alegram no dia a dia, há muito barro caindo, há lama escorrendo na vida da nossa gente. Despindo-nos da falsa sensação de estabilidade, evidenciando a necessidade de urgente intervenção e mudança. Quem são essas pessoas? Nossos conterrâneos ou não, são nossos iguais, seres tão humanos e desejosos de um lugar para chamar de seu, de uma refeição para partilhar com a família em volta da mesa e de uma cama quentinha para descansar e sonhar quando a noite chegar. Estamos preparados para abriga-los? Temos dignidade para todos que estão aqui?
A realidade é que ninguém gostaria de fato de morar em uma área de risco, de viver vulnerável e com medo. Mas precisamos pensar em questões que vão desde autocuidado, perpassam culturas, crenças, oportunidades, até a responsabilidade na construção e fiscalização das nossas cidades. Depois desses tristes eventos, as cortinas foram puxadas e exposto um cenário de urgentes necessidades. Em tempos de dor e crises, que a lição seja de fortalecimento. Que mais do que nunca a prevenção salva vidas. E de verdade, cada pessoa que tem poder de transformar uma nação, uma cidade, um bairro ou ao menos sua própria casa, decida fazê-lo pensando no bem comum.