Retração nas vendas de eletroeletrônicos gera demissões na ZFM, diz Sindicato

Inflação, juros, pandemia e outras despesas afugentam consumidores

Eletros diz que ainda não registrou cortes no Polo Industrial de Manaus acima do normal

Solange Elias
Para o Portal ÚNICO
Com informações de “O Estado de São Paulo”

O Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas disse ao jornal O Estado de São Paulo que as baixas vendas de produtos eletroeletrônicos em todo o país, registradas desde o final do ano passado, já estão se refletindo em cortes de pessoal nas linhas de produção.
Segundo o presidente do Sindicato, Valdemir Santana, um levantamento feito pela entidade mostra que empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM) dispensaram 7,5 mil trabalhadores entre dezembro de 2021 e a primeira quinzena de janeiro, número considerado por ele “acima do normal”.
Segundo Valdemir, cerca de 70% dos cortes ocorreram em indústrias do setor eletroeletrônico. “Geralmente, quando termina um contrato temporário, 40% dos trabalhadores são efetivados, mas neste ano não ficou nenhum temporário.”

Empresas

Só a Philco demitiu 800 trabalhadores no período, segundo o sindicato. A empresa confirmou os cortes e informou, por meio de nota, que todos os anos contrata trabalhadores para atender à sazonalidade do varejo e, nos últimos anos, conseguiu absorver as equipes após o período sazonal. “Em 2021, entretanto, a contratação para a produção específica de aparelhos de ar condicionado foi maior, e isso se refletiu na necessidade de desligamentos após a finalização da produção adicional”, diz a nota.
A Multilaser, em nota, informa que dispensou 81 trabalhadores por desempenho nas fábricas de Extrema (MG), Manaus (AM) e na matriz em São Paulo. Segundo a empresa, “é um turnover considerado mínimo para uma empresa com mais de 4 mil funcionários”.

Valdemir Santana, do Sindicato dos Metalúrgicos, disse que demissões superam “o normal”

Virada no segundo semestre

A origem das demissões está no primeiro resultado negativo obtido pela indústria de eletroeletrônicos nos últimos quatro anos, relativo ao consumo de 2021. As fábricas venderam para o varejo 94,1 milhões de aparelhos, volume 7,2% menor do que o do ano anterior, segundo a Eletros, a associação que reúne os fabricantes do segmento.
A maior queda ocorreu nos televisores, de 15,8%, seguida pelos eletroportáteis (7%) e pelos eletrodomésticos da linha branca, como fogões, geladeiras e lavadoras, com retração de 4,9%. A única linha cujas vendas cresceram no ano passado foi a de aparelhos de ar condicionado, que avançou 7,2%, somando 4,45 milhões de unidades.
“Foi uma frustração. Nem no primeiro ano da pandemia tivemos números tão ruins”, disse ao “Estadão” o presidente da Eletros, o amazonense José Jorge do Nascimento Júnior. Em 2019 e 2020, o setor cresceu 5% a cada ano. A expectativa era de avançar mais 5% em 2021 ou, numa perspectiva otimista, até 10%.
Esse prognóstico até parecia viável por conta do desempenho do primeiro semestre, que registrou avanço na casa de dois dígitos sobre o ano anterior. Mas o mercado virou no segundo semestre.
Entre julho e setembro, as vendas caíram 16% em relação ao mesmo período de 2020. E um tombo de 28% veio no último trimestre, período que inclui Black Friday e Natal, as melhores datas de vendas para os eletroeletrônicos.

José Jorge, da Eletros: aposta na recuperação do dia das mães

Inflação, pandemia, juros altos

A queda nas vendas tem a ver com a disparada da inflação, que corrói o poder aquisitivo dos consumidores, e a consequente alta dos juros. Como boa parte das vendas dos eletroeletrônicos é financiada, esse foi mais um obstáculo ao consumo a prazo.
Fora isso, com o avanço da vacinação e a reabertura dos serviços, passou a haver uma disputa pelo bolso do consumidor por outros setores, como turismo, segundo o presidente da Eletros.
A forte pressão de custos de produção – com forte alta no preço do aço, aumento da tarifa de energia elétrica e a questão do câmbio – também deixou os eletroeletrônicos mais caros. Isso inibiu vendas.
Segundo José Jorge, houve indústrias da linha de áudio e vídeo que deram dez dias de férias coletivas em janeiro para enxugar a produção, ele disse não ter conhecimento de demissões acima do normal no setor.
Ele argumenta que as empresas estão segurando ao máximo a mão de obra na expectativa de que o mercado e o ambiente de negócios melhorem no segundo trimestre. A expectativa é de que o Dia das Mães e a Copa do Mundo impulsionem as vendas.
No entanto, se a conjuntura não melhorar, ele admite que “inevitavelmente” haverá demissões, retrações nos investimentos e reavaliação nas programações de produção. “É um cenário horrível, mas não é o que a gente vislumbra.”


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