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Coluna:

Por: Walmir de Albuquerque Barbosa

Professor Emérito da UFAM; Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo(USP); Graduado em Jornalismo pela UFAM.

Pobre Amazônia

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Desde os preparativos da COP/2022, no Egito, que o discurso internacional e nacional sobre a Amazônia vem ganhando dimensão e conotação inescapáveis para a análise da Ciência Política comprometida com a problemática do momento atual, complexo, confuso e, ao mesmo tempo, expressão de todos os chistes do neocolonialismo externo e interno sobre o nosso pedaço de mundo, ora visto como Éden ou “Eldorado”, ora como “Inferno Verde”, ora como “Pulmão do Mundo”, ora como “Reserva Universal”, nem sempre como espaço onde Natureza e Cultura aparecem como síntese. E, na pura verdade, por não ser visto assim, tornou-se repasto de todas as ambições humanas: dos colonizadores diversos aos “bandeirantes perversos”; de um “imbecil fantasiado de literato positivista” que passou por aqui e deu o tom ao pensamento republicano e das elites sobre o Norte do Brasil; de “coronéis de barranco truculentos”, “ditadores devotados a integrar para não entregar” a governantes diversionistas; de salvacionistas de todos os credos, dos jesuítas católicos aos evangélicos de aldeia; dos “ongueiros de todos os naipes”; dos grileiros de terra, madeireiros, pistoleiros, garimpeiros ilegais; de políticos bigodudos ou não, que carregam dinheiro na cueca ou nas contas bancárias e ouro não sei aonde; e de uma “plêiade de espectadores” e leitores da nossa valorosa mídia, que somente agora foram tocados pela crueza das cenas sobre nossos povos originários – o que restou deles, e que as redes sociais, na sua ignorância logarítmica, consideraram pornográficas e as tiraram de circulação, como ato inaugural do cancelamento antropológico –, famélicos, contaminados por mercúrio, malária e crueldade humana, que cheira a genocídio. Em tudo parece haver uma ponta de hipocrisia latente e isso é o que nos assusta, visto que já se manifestou diversas vezes e traduziu-se em promessas vãs.

Não podemos trazer para o nosso discurso as palavras de Cristo na Cruz: “Perdoa Pai, eles não sabem o que fazem”. Todos sabem sim! Todos têm projetos ambiciosos que nem sempre são os nossos porque não os discutem conosco. O Brasil vê a Amazônia como sua Colônia distante, com seus povos estranhos, com suas terras cobiçadas por outros, com inospitalidades que precisam ser higienizadas. As desgraças sucessivas que sobre ela se abatem geram projetos imediatistas e inconsequentes, que já nascem fadados ao fracasso, muitos deles por megalomania. David H.Treece, professor da Universidade de Liverpool, na “Introdução crítica à MUHURAIDA” (obra que narra a saga heroica do Povo Mura e seu enfrentamento com a colonização portuguesa e, também, o primeiro poema indigenista épico amazônico, de autoria de Henrique João Wilkens), editado em 1785, e reeditado pela Biblioteca Nacional/UFAM/Gov. do Estado do Amazonas, em 1993, nos lembra: assinado o Tratado de Madri (1750), “a resposta do governo imperial (português)…foi o projeto desenvolvimentista verdadeiramente moderno para a Amazônia…o Marquês de Pombal lançou o que se pode denominar o primeiro projeto agrícola protocapitalista, financiado pela Companhia Grão Pará e Maranhão, administrado por diretorias estatais e alicerçado numa reserva de mão de obra assalariada” (p.14). Pós Pombal, o governo português interrompe o projeto e une o Estado do Grão Pará e Maranhão ao Estado do Brasil e deu no que deu: uma sucessão de mentiras, de extorsões; de enganações sucessivas, como o Discurso do “Rio Amazonas”, de Getúlio Vargas (9/10/1940), no Ideal Clube/Manaus, prometendo integração e industrialização. O Projeto de Amazônia, da “Ditadura Militar”, com sua Transamazônica e os assentamentos de colonos para esvaziar o caldeirão da Reforma Agrária no Sul e no Nordeste e que avançou sobre terras dos povos indígenas; e a Zona Franca de Manaus, um enclave de indústrias de ponta, nunca aceito pelo “povo da FIESP”, mas que o governo FHC identificou como fonte de recursos, decretou a “derrama”, nomeou um “Visconde de Barbacena Fajuto” para amealhar todos os réditos, taxas que eram pagas pela indústria local e destinadas a projetos inovadores, para o Tesouro Nacional e deixamos de ver a cor desse dinheiro. Ao ver a sorte da Amazônia sendo negociada numa mesa de feira internacional de Sequestro de Carbono, o frio na barriga volta a se manifestar: pobre Amazônia, o que mais querem de ti?

O conteúdo deste artigo é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do ÚNICO

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