Tanque de criadouro vazou na região de hidrelétricas do rio Grande
Facilidade de reprodução preocupa cientistas
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (CEPTA), órgão ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) está pesquisando a “invasão” de pirarucus no trecho do rio Grande, entre a Usina Hidrelétrica de Marimbondo e a Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais.
Os pescadores da região estão muito felizes, já pegaram exemplares acima de 100kg e dizem que o peixe, típico da bacia amazônica, existe em abundância nesse trecho do rio Grande e é capturado com frequência.. Mas os cientistas e ecologistas não participam dessa comemoração.
Ambiente favorável
Segundo Rogerio Machado, ecólogo e analista ambiental do CEPTA, o rompimento de tanques de piscicultura de criadouros particulares, às margens do rio Grande, possibilitou que os primeiros peixes da espécie pirarucu tivessem acesso ao rio Grande. “Foi quando a espécie encontrou ambiente favorável para se reproduzir, pois não tem predadores naturais”, explicou Machado.
Lilian Casatti, pesquisadora do Laboratório de Ictiologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de São José do Rio Preto, é uma das cientistas brasileiras que estuda os impactos do pirarucu nos rios do interior de São Paulo.
Ela aponta que a espécie encontrou um ecossistema muito parecido com seu habitat natural na Amazônia, principalmente por conta das águas sem correnteza.
“Os rios dessa região estão muito modificados e para pior. Assim, enquanto as espécies nativas demonstram ser mais sensíveis a essas alterações e por isso estão em declínio; as espécies não nativas, como o pirarucu, são mais resistentes, não demonstram muitas exigências e conseguem aproveitar os poucos recursos que ainda existem”, elencou Casatti.
Pesca liberada
Por enquanto, o pirarucu está concentrado no trecho entre a Usina Hidrelétrica de Marimbondo e da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha – duas barragens construídas na década de 1970 para a produção de eletricidade – que corresponde a uma distância de aproximadamente 120 quilômetros em que o rio Grande divide os territórios de São Paulo e Minas Gerais.
Porém, o receio é que nos próximos anos a espécie ganhe os afluentes do rio Grande e comprometa as relações ecológicas de outros rios do interior de São Paulo.
Uma das possíveis soluções para o excesso de pirarucus está deixando os pescadores muito felizes: a pesca está liberada, até mesmo na piracema. “É uma forma de ter controle do pirarucu no rio Grande e evitar mais impactos ambientais”, diz Rogério Machado.
