PF confirma que coronel do CMA vendia ouro ilegal da Amazônia

Ele também passava informações sobre operações contra garimpos clandestinos

Jornal O Globo publica matéria sobre investigação

O jornal O Globo traz extensa reportagem nesta quinta-feira (23), com a confirmação feita pela Polícia Federal de que o tenente-coronel do Exército Abimael Alves Pinto – e um cabo de nome não informado – operava de dentro do Comando Militar da Amazônia (CMA) em uma quadrilha de extração, contrabando e comercialização de ouro ilegal extraido de terras indígenas. Desde julho deste ano, Abimael já era investigado por operações suspeitas entre os anos de 2020 e 2022, quando ele teria recebido R$ 930 mil para avisar os garimpeiros sobre operações dos órgãos ambientais.

A investigação

Abimael começou a ser investigado a partir de uma informação obtida pela PF durante a Operação Jurupari realizada em Manaus (AM), Porto Velho (RO) e Ponta Grossa. Durante a investigação, houve quebra de sigilo telefônico do militar. Em mensagem de áudio, ele teria avisado sobre uma operação na região de São Gabriel da Cachoeira, na fronteira com a Venezuela e a Colômbia. Em um outro trecho, ele detalha a dinâmica da atuação dos agentes.

Conforme as investigações da PF, o militar era lotado em Manaus e recebia uma mesada dos garimpeiros que atuam em Japurá, no interior do estado, para repassar informações sobre as operações policiais na área. O dinheiro era depositado na conta da empresa da esposa dele.

A defesa do tenente-coronel nega todas as acusações e diz que o oficial está sendo vítima de “perseguição”.

Tenente-coronel Abimael Alves Pinto estaria comprando e vendendo ouro ilegal (Foto: PF)

Veja trechos da reportagem do Globo:

“Também foi possível constatar que Abimael se utilizou de militares de patente menor para realizar a venda de ouro que conseguia com o garimpo ilegal, atividade essa que realizava dentro do horário de trabalho”, diz um trecho do relatório da PF ao qual O GLOBO teve acesso.

Mensagens interceptadas

Uma das provas elencadas pela PF é um diálogo entre o tenente-coronel e um cabo, em agosto de 2020. O subordinado envia ao superior a foto de um bolo de notas de dinheiro no bolso de um uniforme militar. Segundo os investigadores, o montante havia sido levantado com a venda do ouro retirado de garimpos. Nas mensagens, o cabo diz que está “com medo” de depositar tantas cédulas no banco.

“Chefe, é o seguinte, a quantidade de cédulas por envelope é de 20 cédulas. O que o senhor acha? O banco já não dá para entrar ninguém, fechou 15h para depositar na boca do caixa. E eu acho muito perigoso ficar contando dinheiro e botando no envelope lá”, diz ele. Abimael, então, responde: “Pode ir lá. Faça com calma”.

Recebendo garimpeiro famoso

Em outubro de 2020, o mesmo cabo recebe uma ordem do tenente coronel para receber no batalhão uma pessoa de nome “Ildo”. “Um amigo meu, de nome Ildo, irá chegar no Btl (batalhão) às 13h05. Favor recepcioná-lo e trazê-lo até a 1ª Sç (seção)”, diz a mensagem interceptada.

Segundo a PF, Ildo se refere a Aldaildo Fongher, investigado por liderar garimpos ilegais na região do Japurá, no Norte do Amazonas. Ele era o responsável pelo “pagamento do militar de alta patente para fins de repassar informações do EB (Exército) e da PF de combate ao garimpo ilegal”, conforme o relatório. Alvo de um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça Federal do Amazonas em junho, ele chegou a ser preso em flagrante transportando barras de ouro um mês antes. Atualmente, está em liberdade. A defesa dele não retornou aos questionamentos da reportagem.


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