“Nosso destino é ser Onça”, é nesse imaginário ancestral da Grande Rio, que o sambista amazonense, Paulo Onça em parceria com o Alberto Mussa entre outros bambas, reuniram-se para conceber e projetar o samba enredo da Grande Rio 2024 para o Carnaval do Rio de Janeiro.
Assim como Mário de Andrade pariu “Macunaíma, um herói sem nenhum caráter”, relendo o universo mítico dos povos originários manifesto nas narrativas populares e no próprio comportamento dos brasileiros; da malandragem até as carteiradas do “sabe com quem tá falando”, típicas do doutor bacharel; Paulo Onça e seus bambas também mergulharam no Mito da Criação dos Tupinambá, buscando na cultura desse povo-onça uma compreensão poética da criação do mundo como encantaria – representação simbólica daquilo que é – fazendo o samba clarear quando: “O Velho Deus, supremo, fez brilhar/ Viver é metafórica antropofagia/ Herança da visão Tupinambá/ Sumé, o avesso de Maíra, tão soberano/ É a onça que se hospeda em cada ser humano”.
O bicho vai pegar com arte, luz e querência fazendo o povo cantar: Bate o cajado nesse chão, ôô luar/ Pra fazer revolução, iluminar/ Mergulhei na grande Rio, correnteza de paixão/ Lá vai meu coração.
Mas, o Onça, o felino Paulo, não para por aí, resolveu também concorrer na Mangueira disputando com os mestres do morro e desta vez a homenageada é a Marrom, Alcione, com o samba que lembra e muito a batida do mestre Jamelão – “Negra voz do Amanhã”.
Tive oportunidade de ouvir os dois sambas me deixei seduzir pelo primeiro que requer mais trabalho, arte e transpiração. Assim como Paulo Onça e Chico da Silva, com projeção nacional, temos tantos outros amazonenses que se tivessem apoio público ou privado poderiam contribuir e muito para qualidade de nossas produções culturais com visibilidade nacional e mundial.
Vida longa aos nossos artistas, compositores, instrumentistas, os fazedores da cultura do nosso Amazonas. Na torcida por Paulo Onça porque talento não tem pátria.