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Coluna:

Por: João Melo Farias

João Melo Farias Poeta e indigenista.

O Reahu para João Mineiro.

Ilustração

João Silvério Dias, o famoso João Mineiro atravessou o rio da vida em 15.01.2023, vitimado por várias problemas de saúde dentro de uma UTI de um hospital na cidade de Manaus. Porém, antes de adentrar a “noite eterna” pediu que seu corpo fosse cremado e suas cinzas fossem entregues aos Periome (líderes) do povo Yanomami do município de Barcelos.

Sua filha Aparecida, a Cidinha ou Cida como ele a chamava carinhosamente, cumpriu a vontade do ‘velho da beira do rio Negro’, transportou suas cinzas para Barcelos e as entregou aos Yanomami dos rios Marawiá, Demini e Padauiri no dia 19.01.2023, no prédio da Assiba-Associação Indígena de Barcelos em cerimônia que contou com a presença do indigenista José Ribamar Caldas Lima Filho, seu parceiro e irmão de trabalho e andanças pelas corredeiras no Rio Negro.

Este simbólico gesto significa que o funeral de João Mineiro, para os seus queridos Yanomami, só vai terminar no próximo solstício de verão, que este ano deverá ocorrer entre os dias 21/22 de dezembro de 2023, quanto esse fenômeno astronômico gera o dia mais longo com a noite mais curta. Geralmente no início da noite acontece a celebrarão do ritual Reahu Yanomami.

O Reahu Yanomami

O Reahu é o último ritual (dito, de passagem e de natureza osteofágico), que o povo Yanomami sofre.
Consiste em queimar o corpo do finado numa grande pira funérea. Após, os ossos brancos que contém marfim são coletados e pilados até se reduzirem numa fina cinza. As cinzas são guardadas em vários cuias pequenas, fechadas, à espera do solstício de verão, quando celebrarão o Reahu, um rito de cantoria para peribo (lua) e os amigos e parentes mais chegados, que podemos dizer, “os considerados”, são convidados para tomar as cinzas num mingau de banana entre choros e cantorias coletivas.

Cada familia enlutada guarda as cinzas dos seus mortos, que serão consumidas ritualmente nesse dia. As aldeias se preparam com alimentos, bebidas inebriantes como o caxiri de pupunha (weré-weré) e epena (rapé) para as sessões xamânicas.
A partir deste ritual o luto da viúva e dos parentes acaba. A cinza de todos os finados são consumidas ritualmente nessa ocasião. O rito serve para fazer com que as virtudes dos finados sejam perpetuadas dentro do espírito do grupo familiar.

David Copenawa e o solstício de verão!

O grande líder David Copenawa, do xabono Hatukara, no rio Demeni, não pode se fazer presente em Barcelos, mas foi-lhe destinado um potinho com as cinzas do João Mineiro para que ele e sua familia possam celebrar no solstício de dezembro o ritual Reahu, a última homenagem para João Mineiro, quando consumirão suas cinzas para que suas venturas, seu espírito de trabalho e de respeito aos povos indígenas e em especial, os Yanomami da Urihi Hatukara, possam continuar a caminhada de preservação no ethos do povo Yanomami.

João Melo Farias
Ixé Tupinambarana

O conteúdo deste artigo é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do ÚNICO

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