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A união é o caminho para os estados do Norte, que precisam olhar o exemplo do Nordeste Brasileiro, segundo observa o governador do Acre Gladson de Lima Cameli. Em entrevista exclusiva ao ÚNICO ele diz que o agronegócio é responsável por 75 mil empregos diretos no Acre, conta que o maior drama do seu estado no enfrentamento a Covid aconteceu em fevereiro e comenta a opinião do ex-governador Amazonino Mendes, sobre a artificialidade da economia do Amazonas. Confira a entrevista

Governador do Acre diz que falta união para os estados do Norte

Governador acreano Gladson Cameli fala sobre a economia do Amazonas e diz que Acre está aberto a parcerias

Cameli confirma que será candidato a reeleição e aponta seus maiores adversários políticos

A união é o caminho para os estados do Norte, que precisam olhar o exemplo do Nordeste Brasileiro, segundo observa o governador do Acre Gladson de Lima Cameli. Em entrevista exclusiva ao ÚNICO ele diz que o agronegócio é responsável por 75 mil empregos diretos no Acre, conta que o maior drama do seu estado no enfrentamento a Covid aconteceu em fevereiro e comenta a opinião do ex-governador Amazonino Mendes, sobre a artificialidade da economia do Amazonas. Confira a entrevista:

1 – Único: qual o principal segmento da economia do Estado do Acre atualmente e o que o governo vem fazendo para fortalecer as atividades produtivas no estado?
Nossa maior vocação sempre foi o agronegócio.O fortalecimento e a expansão do agronegócio no estado são de vital importância para economia acreana, pois atualmente já garante 75 mil empregos diretos, o que representa em negócios 12% do Produto Interno Bruto (PIB) local, alcançando em torno de R$ 1,4 bilhões que o colocam em terceiro lugar em termo de geração de renda. A produção de carne gira em torno de 100 mil toneladas por ano, com mil toneladas exportadas por ano, sendo R$ 4,7 bilhões o patrimônio bovino. Com os avanços previstos pelo governo por meio dos inúmeros incentivos que estão sendo feitos, a expectativa é aumentar ainda mais esses números.
Estamos melhorando as estradas vicinais, e diminuindo a burocracia, respeitando tudo que está no novo Código Florestal Brasileiro, como, disse, estamos apostamos em todas as frentes, mas focando em nossa vocação que é o agronegócio, mas com total sustentabilidade, a industrialização visando os negócios com os países andinos, com a conclusão da Ponte, conseguimos fortalecer a segurança de quem deseja investir em nossa região, e o ecoturismo por meio das políticas ambientais, então tudo que hoje o investidor precisa, estamos posicionados geograficamente em uma área estratégica.
Após a inauguração da Ponte do Abunã sobre o Rio Madeira, que eu digo que é a obra mais importante que o Presidente Jair Bolsonaro finalizou em seus dois anos de gestão, tudo muda para o Acre. Eu sou engenheiro por formação e vi o Dnit construir praticamente outra ponte por conta das cabeceiras. Com a Ponte (que o presidente chegou a sugerir ser batizada com o nome do engenheiro civil, Francisco Thiago Correia Modesto, de 31 anos, que morreu após sofrer um acidente de carro no Km 611 da BR-163, em Nova Mutum-MT) sobre o Rio Madeira,unimos definitivamente o Brasil com o Pacífico, o Pacífico com o Atlântico. Essa obra dá o laço final na infraestrutura de quem quer investir no Acre. Tirando milhares de acreanos do isolamento. Agora o Acre está ligado via rodoviária com os demais estados da federação, facilitando muito mais o escoamento de nossa produção pecuária, agropecuária, e tudo mais que ainda vamos produzir.

2 – Único: como o Acre vem lidando com a pandemia? Há uma estrutura em todo o estado ou os serviços se concentram em Rio Branco?
Pra você ter uma ideia, recentemente fomos destaque em transparência quanto às informações prestadas sobre a Covid-19. O resultado foi divulgado após pesquisa realizada pelo doutor em Administração da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Fabiano Maury Raupp, que também é professor Associado do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e membro do Observatório de Finanças Públicas (Ofip).
As informações foram coletadas do Portal de Transparência do Estado do Acre, onde fica público o acesso de vacinas, recebidas, distribuídas e aplicadas, além da divulgação da população-alvo e grupos prioritários para vacinação. Para mim, transparência vale muito.
Quando assumimos o governo do Estado, eram 30 UTI’s. Estamos recuperando todas as unidades de Saúde estaduais, e lembrando que 94% dos serviços de saúde do Acre são públicos.
Construímos dois hospitais de campanha fixos em 40 dias. Um em Rio Branco, capital do Estado, onde ao mesmo tempo concluímos o Into/ACRE (Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Acre) que se tornou o nosso Hospital de Referência para a Covid-19; ampliamos o Hospital do Idoso com Leitos Clínicos Covid e também estruturamos o Pronto-Socorro com UTI’s (na capital).
O outro Hospital fixo construído foi em minha cidade natal, Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do estado;também montamos leitos clínicos no Hospital Regional Raimundo Chaar em Brasileia, na Região do Alto Acre. Temos o Harpia 1 e 2, os helicópteros que ficam encarregados para buscar pacientes nas regiões mais distantes.
Realizamos a entrega de dois tomógrafos novos, um para o Hospital Regional do Alto Acre, em Brasileia, e outro no Hospital Regional do Juruá, em Cruzeiro do Sul. A ação beneficiou ainda em fevereiro as duas regionais, uma que não dispunha do aparelho, e a outra que estava com um aparelho defasado. Eles fornecerão aos médicos uma visão fiel do esqueleto, dos pulmões e das vias aéreas, além de outros órgãos internos.
Fiz questão, assim que assumi o governo, de reformar todos os aeródromos do Estado. Parecia premunição, mas era Deus preparando o terreno para o que viria em 2020. Se não fosse isso, nossos aviões não teriam como aterrissar para pegar os doentes.
Hoje (dia 23 de maio) temos 106 leitos de UTI Covid existentes, com ocupação de 48,11% e 253 leitos clínicos Covid existentes com 30,04% ocupados. Nossa equipe de Saúde é um time. Um povo de muita fé e força. Tenho muito a agradecer a cada um. Me orgulho todos os dias deles e agradeço a Deus por suas vidas e oro pedindo que nosso Pai abençoe suas famílias. Vivemos uma verdadeira guerra.
Imagine! Chegamos a 100%. Enviamos pacientes para Manaus. Foi um momento muito difícil, pois em fevereiro, março e início de abril tivemos a crise migratória na fronteira do Acre com o Peru, a maior alagação já enfrentada no estado. Para se ter uma ideia, foram 10 cidades que ficaram praticamente embaixo d’água, e ainda a segunda onda da Covid se espalhando sem precedentes. Temos, falhas?Temos!Mas não paramos de olhar os nossos erros para estar sempre avançando.

3 – Único: O Senhor será candidato a reeleição?

Só se Deus não quiser e o povo. Não vou negar que tenho o interesse, mas vamos ser honestos: temos uma pandemia aqui que precisamos vencer. Então não faço parte do time que joga só pela eleição. Vou fazer meu trabalho, proteger a vida das pessoas, passar segurança, para que só no ano que vem, no momento exato, eu possa tratar de eleições. Se tiver todas as condições, que pra mim é principalmente a população sinalizar que me quer, eu sou candidatíssimo. Mas estou reorganizando toda máquina estadual. Estamos com dois anos de governo. Muita gente não acreditava que nós conseguiríamos fazer as ações que fizemos. Quem acreditava que teríamos condições de chamar aprovados em concursos públicos de gestões anteriores? Fiz isso na área de Segurança, e fiz isso inclusive com cadastro de reserva. Contratei pessoal para Saúde, Educação e outras áreas. Àqueles que às vezes reclamam, eu respeito, mas eu sou o governador de todos e eu vou continuar respeitando e fortalecendo a nossa democracia, mas não esquecendo do princípio básico que aprendi na minha escola de primeiro grau, Escola São José: o Estado Democrático de Direito tem que estar acima de qualquer interesse, cito aqui o político. o Estado tem que ser preservado, então essa é conduta e vou cumpri-la diariamente, pois foi o juramento que fiz com o povo do Acre.

4 – Único : Qual a sua relação com a Assembleia Legislativa? E com o prefeito da capital?
O melhor possível. Eu não tenho problema com ninguém. O Poder Legislativo é um poder soberano. Quando os deputados criticam me ajudam, quando tem que cobrar do executivo eles cobram, e isso não me ofende, eu gosto da crítica construtiva. Mas quando politizam não se chega a lugar algum. E não estou falando exclusivamente do Acre. Quando se gera a politização dos fatos, atrasa processos que buscam beneficiar os estados e o país, e o povo é quem sai perdendo. O que nós precisamos é seguir respeitando as autonomias dos poderes, das instituições, principalmente cumprir o que está na Constituição. E sempre ter um bom diálogo e relacionamento.
Sobre o prefeito da capital, Tião Bocalom temos uma relação institucional muito boa. Não tenho nada contra ele,pelo contrário, nós temos a consciência que só juntos poderemos atender o maior números de pessoas na capital pela presença do poder público, eu no governo, ele na prefeitura de Rio Branco.

5 – Único : Os irmãos Viana dominaram a política no Acre por vários anos. São seus principais adversários?
Eu penso que o maior adversário de um político é ele mesmo. Eu respeito todos os adversários. Eu não interpreto que eles (os Viana) sejam meus maiores adversários. É um grupo político. Mas não subestimo ninguém, nenhum ser humano. Todos têm a capacidade de vencer. Para mim, não existe quem é fraco ou quem é forte. Quem sabe é o povo que observa, e eu não subestimo mesmo é a população, isso você pode ter certeza. Adversário tem que ser tratado como adversário político, e adversário político pra mim não é inimigo, pelo contrário.

6 –Único : O ex-governador Amazonino Mendes costumava dizer que a economia do Acre era pequena mas real, enquanto a economia do Amazonas era artificial em função dos incentivos fiscais e corria riscos permanentes. O Senhor concorda com essa análise?
Concordo em partes. A economia do Amazonas é uma economia que como a do Acre precisa crescer. Ele foi governador por quatro mandatos, portanto sabe o que está dizendo, deixou uma marca e a população aprovou. Realmente o fato da economia do Amazonas ter os incentivos da Zona Franca gerou emprego e renda pra a população. Mas não a vejo como artificial. Aqui hoje temos uma infraestrutura pronta, estamos de frente para o Pacífico, dos países andinos. O Acre é pequeno, possui sim oportunidades, igualmente ao Amazonas. Mas só vejo uma saída para nossa região: união.O Acre tem tudo para empresários que queiram investir, inclusive os benefícios necessários para isso. É mão dupla! Ou seja, queremos gerar emprego e renda, e tão logo ter a ZPE (Zona de Processamento e Exportação) em pleno funcionamento.

9 – Único: Como governador, o que o Senhor gostaria de deixar como legado na História do Acre?
Meu legado… Ter a consciência que no período mais difícil que o mundo inteiro passou, o da pandemia, eu agradeci a Deus por ser o governador do Acre. Conheço meu coração. Lutei com todas as minhas forças. E Deus me ajudou. Meu time se uniu. Eu não me senti só. Estávamos juntos, trabalhamos incansavelmente todos os dias. E estamos vencendo. E vamos vencer! Exaustos, mas vitoriosos.
Quando você quer fazer, quando você acredita em você, melhora a vida das pessoas. Vou olhar para traz e ver que contribui com a vida das pessoas.

10 – Único : O senhor acredita que falta aos estados do Norte, uma unidade na defesa de ações de interesses da região? E se acha, como mudar isto?
Com toda certeza. Falta sim união de toda a classe política. Mas vou aqui dar o exemplo positivo do Nordeste. Quando há um problema, seja em qualquer Estado, toda a classe política se une, tanto governadores quanto parlamentares, em defesa do estado que esteja sendo prejudicado. Aqui no Norte está faltando isso. Eu puxei essa bandeira quando deputado, depois quando senador tive mais êxito, e agora como governador também. Então, posso dizer que estamos conseguindo ampliar a união, pois juntos somos mais fortes, e não podemos ficar de braços cruzados vendo nossa região ficar para traz. Hoje posso adiantar que já melhorou muito. Mas ainda precisamos avançar.


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