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Indígena doutoranda da UEA vai para a França “dar voz ao povo”

Alícia Patrine foi aprovada no Programa de Mobilidade Internacional Indígena

Ela é da etnia Kokama e garantiu uma bolsa de estudos na Université Paris 8

“Eu preciso dar voz ao meu povo”. Essa é a meta de Alícia Patrine Cacau dos Santos, indígena da etnia Kokama, que conquistou a aprovação no Programa de Mobilidade Internacional Indígena “Guatá”, garantindo uma bolsa de estudos na Université Paris 8, na França.

Doutoranda

Alícia é doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas (PPGMT/UEA), em parceria com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado. O “Guatá” é resultado da parceria entre a Assessoria de Relações Internacionais (ARI) da UEA e o governo francês, por intermédio da Embaixada da França, em Brasília.

UEA integrada

A UEA integra um grupo de cinco universidades brasileiras credenciadas ao programa: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).


Para o reitor da UEA, o Prof. Dr. André Zogahib, é de extrema importância a universidade investir em parcerias visando a capacitação de alunos. “Nos alegramos imensamente de ver o crescimento profissional de pessoas formadas pela UEA. Elas estão ganhando o mundo, levando o nome da nossa instituição, do nosso estado, pelo mundo afora.”

Relações internacionais

A tratativa da parceria entre UEA e Embaixada da França iniciou no primeiro trimestre de 2023. Por meio da iniciativa, estudantes indígenas de pós-graduação da UEA, em todas as áreas do conhecimento, têm a oportunidade de estudar em universidade francesa por até 11 meses, com bolsa de estudos no valor de 800 euros e outros benefícios como seguro-viagem. Além disso, a UEA ofertará um curso de idiomas.


A diretora da Assessoria de Relações Internacionais, Vanúbia Moncayo, explica que a parceria veio em um momento oportuno, pois a ARI passou por uma reestruturação. “Conseguimos o acordo e colocamos a UEA no programa Guatá, ao lado de grandes universidades.”


Vanúbia ressalta, ainda, que após a pandemia o mundo vive em um processo intercultural muito pujante. “Justamente para congregar culturas diferentes e valorizar a identidade de cada um. E, para a nossa alegria, temos a primeira aluna indígena aprovada da UEA”.

Processo de reparação histórica

Formada em Biomedicina, Alícia acredita que o momento da etnia Kokama é de resgate da identidade cultural. “Somos da região do Alto Solimões. Nossa etnia foi quase extinta. Foi um processo longo e muito violento da colonização. Durante muito tempo a gente se escondeu”, ressalta.


Ao relembrar a sua trajetória acadêmica, Alícia ouviu muito dos pais que os indígenas precisam estar em todos os lugares. “Tive crises de identidade por ser indígena e estar em contexto urbano. Não tive aulas de física no ensino médio, a infraestrutura no interior é complicada. Estudei para o Enem com livros que seriam queimados. Então, é uma luta porque sempre somos associados a pessoas matutas, preguiçosas, sujas. Na graduação, percebi que em muitos eventos falavam sobre a Amazônia, mas os amazônidas não estavam presentes. Ou seja, as pessoas que conhecem a realidade, que vivem em área ribeirinha, em área indígena.”

Voz ao povo

E, com a determinação de dar voz ao povo indígena Kokama, a estudante foi aprovada, em 2020, no PPGMT/UEA. Durante o doutorado, os orientadores também a incentivaram na formação de outros idiomas. “Aprendi inglês em um ano e participei de eventos científicos. Sempre falei que só precisava de uma oportunidade. No doutorado, trabalho em uma comunidade ribeirinha no Alto Solimões chamada Limeira, com educação em saúde associada a doenças tropicais e infecciosas.”


Atualmente, Alícia também faz pós-graduação em Antropologia Cultural, pois acredita que esse é o caminho. “Sempre tive o sonho de sair do país para aprender e aprofundar o conhecimento, pois será uma reparação histórica porque durante muito tempo fomos marginalizados e esquecidos”, finaliza.

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