Lourenço Braga
MANAUS E EU

Por: Lourenço Braga

Advogado, professor, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), ex-secretário de educação e ex-reitor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

GANHOS & PERDAS

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Na última terça-feira, encontrei em bncamazonas.com.br  matéria que noticia haver sido o Centro de Mídias do Amazonas reconhecido com o prêmio YouTube/Unesco, pelos relevantes, seguros e competentes serviços prestados à educação em nosso Estado. Ali está dito que o Centro conquistou mais esse valioso troféu na categoria “Parceiro da Educação Digital – Instituições Públicas”, título obtido “após ter os conteúdos educacionais avaliados por especialistas em educação, da equipe YouTube Brasil e da representação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura  (Unesco)”. Ouvida a respeito, a nobre Secretária da Pasta, ilustre Professora Kuka Chaves, afirmou tratar-se de “um modelo que é referência em todo o Brasil”, proclamando que o Centro, “por meio do ensino mediado, cria oportunidades, encurtando distâncias levando a educação o mais longe possível.”

Na próxima sexta-feira, 18 de agosto, dar-se-á a solenidade de premiação e desde agora registro aqui, neste canto de opinião, congratulações a todos quantos – dirigentes, técnicos, auxiliares e, sobretudo, professores – concretizam, a cada dia, a cada hora de aula no ar, o sonho de uma educação de qualidade e, sobretudo, de igualdade entre  os que a constroem como alunos dos mais longínquos rincões deste Estado continente.

Quando estive a dirigir a Secretaria de Educação, no ano de 2018, cumpri com absoluto rigor a missão de prestigiar o modelo, reconhecendo-o indispensável para a formação de jovens de zonas rurais de todos os municípios do Amazonas, justo para onde não seria possível levar o conhecido Ensino Médio no tradicional modelo presencial, que nem mestres em quantidade suficiente haveria.

Ali estando, resgatei a inspiração de programa que criara na nossa Universidade do Estado do Amazonas com o titulo de “Aprovar” e, com o entusiasmo e a contribuição indispensável de João Batista, de Carlos Jennings, de Kátia, Sabrina,  Kenny, Luana, Lafrankia, Hellen, Elcilene,  Indira, Luciana, Marieta, Genésio Neto e  tantos outros professores e técnicos, foi possível instituir o “Conquistar” ousada plataforma   que, à maneira da que lhe fora precedente, cuidava da preparação específica de alunos que, na Capital e no Interior, sonhavam com ingresso no terceiro grau de ensino. Não são muitos,  sabemos todos, os que podem arcar com os ônus de preparação especializada para concurso vestibular, em cursos de alta qualidade, sem contar com o fato de que essas louváveis experiências educacionais não existem na maioria dos municípios hinterlandinos, como na totalidade da zona rural de cada uma   dessas unidades federativas. E tudo isto –  assim no “Aprovar”, de nossa UEA, como no “Conquistar”, que se incorporou à SEDUC –  somente foi possível mercê da ousadia que, nascida em 2001 –  primeiro ano de funcionamento da Universidade do Estado e início do programa PROFORMAR, que graduou mais de 15.000 professores de 1º ao 5º ano em todos os municípios do Estado – elevou o Amazonas a condições nunca antes conhecidas no plano da Educação.

A história do Centro de Mídias já narrei em artigo de 6 de janeiro deste ano, quando demonstrei, em resgate responsável da composição histórica, que entre nós o modelo de transmissão de aulas usando recursos tecnológicos de comunicação à distância teve início, em verdade,  no primeiro ano de funcionamento de nossa UEA, ante exigência informada ao governador Amazonino Mendes de, em cumprimento a lei federal, formar, em nível de graduação, os professores das séries iniciais de ensino. Não seria possível executar programa dessa envergadura com o modelo presencial de educação, até então o único utilizado no Estado, inclusive por falta de professores em quantidade suficiente com formação de nível desejado. O caminho encontrado deixei assentado naquela narrativa, onde lembrei que  “a 5 de janeiro de 2002 foi proferida a aula inaugural do maior projeto de formação de professores da história do Amazonas, com mais de 7.000 alunos em 157 salas de aula de todos os municípios hinterlandinos e mais de 2.500 em Manaus. Naquele dia, o  governador e o reitor falamos pela vez primeira para todo o Estado, em rede particular de televisão.”

Programa igualmente premiado pela UNESCO, fazia nascer  a grande conquista tecnológica de que aqui cuido e que permitiu à Universidade dois recordes: transformar-se, já em seu   primeiro ano de existência, na maior multicamp do país e formar a maior turma de alunos do planeta, distribuídos por 157 salas de aula  no Interior e mais de 10 na capital, todos a receberem aulas ministradas ao vivo por professores-doutores ou mestres nas respectivas áreas de conhecimento.

Foi essa experiência – indiscutivelmente exitosa no âmbito próprio  e que desde então tem servido para o desenvolvimento de formação continuada por diferentes órgãos e entidades da Administração, assim como dos demais poderes do estado – que o professor Gedeão Amorim, assessor no PROFORMMAR, levou para a Secretaria de Educação, corajosa e pioneiramente, para implantar projeto de  formação de alunos do ensino médio em comunidades rurais dos municípios do Interior. E ali fez, com o indispensável auxilio de competentes técnicos, sucessiva modernização, incorporando conquistas que a Informática foi colocando à disposição com o  passar do tempo, e preservando a estrutura de suporte às aulas, com material didático especialmente produzido e a transmissão ao vivo, a partir de estúdio próprio, com a participação, em cada ambiente local, de um professor que funciona como facilitador e motivador do alunos.

O ganho que se iniciou com o PROFORMAR, origem do festejado Centro de Mídias, pode ser sintetizado com a seguinte constatação: respeito aos professores, melhor qualidade da educação orientada e executada por graduados e agora já por especialistas, mestres, doutores e até pós-doutores nessa sensível área do Conhecimento.

À vista do que chamamos de roda viva da vida, ao tempo em que entoo loas à verdadeira revolução operada pelo que venho de analisar,  e permanecendo no âmbito da Educação, imponho-me registrar, com tristeza,  o passamento para mundo distante deste do eminente professor MANOEL BESSA FILHO, a quem Deus brindou com raríssima inteligência e extraordinário poder de transmitir conhecimentos, de Filosofia, de Direito e da vida, a jovens de tantas gerações.

Sacerdote católico, iniciava-se no magistério no começo da década de 1950 quando, em consequência de como pensava o futuro que ajudava a construir para os que com ele dividiam a sala de aula, pôs-se ao lado dos estudantes que, em movimento de luta que se inscreveu na história do Gymnasio Amazonense, opunha-se a atos de tirania praticados pelo diretor da escola, com apoio de alguns professores. O Partido X, de José Braga, de Fernando Peres, de Batelão, de Ruy Moura  e de tantos outros, com apoio do  Partido Progressista Ginasiano – tradicional adversário, de Luís Saraiva e de João Braga, que iria presidir a UESA, para citar poucos – comandou greve que conduziu ao fechamento dos portões do Ginásio e que só terminou quando o governador Plínio Coelho concordou em exonerar o diretor e para o cargo nomear o jovem padre, aceito pelos alunos como pacificador.

De todo saudável, a convivência com alunos permitiu a Bessa participar de serenatas e de outros encontros de arte com alunos que se fizeram próximos, sem nem mesmo tisnar os valores religiosos que sua batina representava.

Depois, preferindo renunciar à ordenação, não à Igreja, bacharelou-se em Direito por nossa centenária Faculdade da praça dos Remédios. Advogado, fez-se Auditor da Justiça Militar e em seguida Juiz e no exercício da judicatura sempre manteve o equilíbrio desejado, buscando sustentar no binômio lei x justiça as decisões que prolatou.

Foi com essa bagagem de conhecimentos e de experiências que se fez professor de faculdades e de cursos da ciência jurídica, sempre mantendo-se em sintonia com aspirações e sonhos de seus jovens alunos com os quais jamais deixou de identificar-se.

No dia de sua partida, disse eu a seu afilhado e sobrinho José, em tom de conformação, que seus rosários, seus terços, suas orações agora se farão em outro plano da vida, onde será luz.

Perde, no plano material, a Educação de nosso Estado.

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