Fundação Amazônia Sustentável comemora 15 anos no Amazonas

Ações que tiraram famílias da linha de pobreza e atenção especial a jovens e crianças

Confira entrevista exclusiva concedida pela direção da ONG ao ÚNICO

Brasília (ÚNICO) – O bioma Amazônia é visto mundialmente como o guardião da floresta e a esperança de uma sustentabilidade renovada. E esse apelo ambiental tem atraído, ao longo dos anos, a ação e atuação de dezenas e dezenas de organizações não-governamentais, as famosas ONGs.
Essas instituições acabaram se tornando objeto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado. Na semana passada, a primeira ONG a comparecer à CPI foi a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que nasceu em Manaus e há 15 anos desenvolve diversas ações ambientais e sociais na região.
O superintendente de Inovação e Desenvolvimento Institucional da FAZ, Victor Salviati falou ao ÚNICO sobre esses trabalhos que a ONG executa em mais de 800 comunidades amazônicas. Confira:

Valéria Costa
Correspondente

ÚNICO – A Fundação Amazônia Sustentável está debutando, com 15 anos de fundação. Qual a síntese desse período?

Victor Salviati – A FAS completa esses 15 anos de existência bastante feliz de ter contribuído para uma Amazônia viva, mais próspera. Os impactos desses 15 anos podem ser colocados em três aspectos:

O primeiro é social, a gente tem um programa destinado à proteção de direitos de criança e adolescente, que trabalha com mais de 4.000 crianças nos municípios do interior do Amazonas. Não só tratando assuntos sensíveis, como exploração sexual, mas também questões da educação na formulação de políticas públicas para educação dessas crianças, principalmente com educação complementar. Aulas de música, aulas de educação ambiental e trazendo um componente bastante interessante para dentro das escolas municipais e estaduais do Amazonas, com esse fator de correlacionar a Amazônia dentro do conhecimento e, principalmente, a questão do ensino relevante.

O segundo aspecto é a parte econômica. A Fundação Amazônia Sustentável conseguiu contribuir para que milhares de famílias saíssem da linha da pobreza extrema. Isso foi atestado por meio de uma pesquisa de opinião independente feita nos anos de 2009, 2016 e 2019. Demonstrando que cerca de mais de dez mil famílias tiveram a sua renda triplicada nesse período. Saindo de pouco mais de R$ 300 para quase R$ 1 mil. Muito por conta dos investimentos e infraestrutura em bioeconomia, nas 16 cadeias produtivas com as quais a FAS trabalha.

O terceiro aspecto é do ponto de vista ambiental, que nesse mesmo período onde se triplicou a renda familiar, teve uma queda do desmatamento de 40%. Ou seja, nesses 15 anos, a FAS conseguiu atestar, por conta dos seus programas e projetos, que é possível, sim, proteger a floresta e aumentar a renda dessas famílias.

ÚNICO- A ONG atende mais de 800 comunidades no Amazonas. Que comunidades são essas? Isso reflete em quantas pessoas ou famílias atendidas?

VS – A FAS trabalha com com 802 comunidades ribeirinhas aqui no Amazonas, especificamente são comunidades tradicionais que vivem nas beira dos rios. Com uma tradição de pesca extrativista, com açaí, por exemplo, e também com a cultura local amazônida. Então a cultura de festividades católicas, cristãs, as festas de São João, por exemplo. E é muito importante dizer que essas mais de 800 comunidades, com as quais a FAS trabalha, abrange um território de quase 14 milhões de hectares. Então nós estamos falando de, pelo menos, 14 milhões de campos de futebol. E nessas mais de 800 comunidades, a gente tem um pouco mais de 11 mil famílias. É um valor aproximado a quase 60 mil pessoas beneficiadas diretamente pela FAS.

ÚNICO – O Amazonas e a Amazônia têm um grande apelo ambiental internacional. Como essa movimentação internacional pode atender, concretamente, aos interesses da região?

VS — A comunidade internacional, nos últimos 5 e 6 anos, entendeu a importância da Amazônia e também do Estado do Amazonas, que é o Estado onde tem a maior porção florestal do mundo, floresta tropical, não só pelas questões ambientais e ecológicas que a Amazônia é mundialmente reconhecida, da sua diversidade, da flora e da fauna, mas também pelos serviços prestados pela floresta amazônica. Um dos serviços mais comuns e talvez o mais importante seja a produção de umidade ou produção de chuva. Grande parte da chuva que cai no centro-sul da América do sul, basicamente, o Centro-Oeste brasileiro, Sudeste e Sul, vem daqui. As árvores da Amazônia transpiram a água que ajudam a condensar e transformar as nuvens em chuva, fazendo com que essa chuva caia na floresta. E esse interesse, obviamente, é para manter essa bomba biótica, essa bomba de água, funcionando, trazendo não só água para as grandes cidades brasileiras, mas também o microclima de tudo.

ÚNICO – Na sua avaliação, qual o papel que as ONGs devem ter na Amazônia? As ONGs ambientais estão sendo alvos de CPI no Senado. O que o senhor falaria em defesa destas instituições?

VS – O papel da sociedade civil na Amazônia tem uma relação muito importante porque a sociedade civil organizada é uma plataforma de aproximação das políticas públicas e os gestores públicos da sociedade, principalmente aquelas pessoas mais vulnerabilizadas que moram em locais mais longe ou que estão em áreas marginalizadas. Às vezes, o poder público tem dificuldades de chegar, por questão de custo ou até mesmo orientação. E a sociedade civil organizada faz esse papel de aproximação da política pública. Com base nisso, é importante defender a democracia moderna. Defender papel da sociedade civil, principalmente esse papel de conexão de política pública.
A sociedade civil não pode, de maneira alguma, está a parte da política pública e dos gestores de órgãos públicos. Ela tem que estar inserida nesse processo. E não só do ponto de vista prático, institucional, mas também estratégico. Por isso que nós, da FAS, trabalhamos muito com políticas públicas, em territórios públicos estaduais, municipais e federais para ajudar os governos a implementar e melhorar a implementação das políticas públicas nesses níveis.


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