Feirantes de Manaus indicam queda no consumo de peixes

Peixeiros relatam que clientes estão preocupados com a doença da “urina preta”

Força-tarefa está em Itacoatiara investigando origem do surto

Os feirantes de Manaus, vendedores nas bancas de peixes, começam a indicar uma retração no consumo de pescado, em função da apreensão causada entre a população da capital, pelo surto da doença da “urina preta” (Doença de Haff) no Estado. Na quarta-feira (1), as autoridades sanitárias já haviam registrado 51 casos em oito municípios do Amazonas. O Portal ÚNICO conversou com dois peixeiros e ambos indicaram a fuga do consumidor, tanto no centro da cidade quanto nos bairros.
Alessandro Marcelo Cascais é feirante de peixes há 35 anos na Feira Manaus Moderna. Ele revelou ao ÚNICO que já na terça-feira, quando todos os feirantes da cidade vão ao porto comprar o produto trazido pelas embarcações e que abastece a capital durante toda a semana, houve uma redução de pelo menos 30% na procura do pescado. “Trabalho com peixes há 35 anos e nunca vi um dia assim”, disse ele. “Toda terça de madrugada compramos os peixes que vão para todas as feiras da cidade. Mas notei que só havia 70% do movimento de feirantes. Notamos essa queda”, disse ele.
Nos bairros, a situação não é diferente. O feirante do Santa Etelvina (Zona Norte), José Luís Neves, disse ao ÚNICO que percebeu queda nas vendas em “mais da metade”. Segundo Neves, desde a quinta-feira passada os clientes foram sumindo. “Meus clientes fixos vinham cedo, jaraqui fresquinho não sobrava. De quinta (26 de agosto) pra cá, caiu bastante e agora tô (sic) tendo que congelar. Pessoal está com medo mesmo”, lamentou ele.
Os dois peixeiros demonstraram apreensão com a evolução do quadro e cobraram respostas sobre a realidade da contaminação. Alessandro Cascais não acredita que possa ser unicamente o peixe, mas outros alimentos.

Impacto no mercado

Ontem, o secretário estadual de Produção Rural (Sepror), Leocy Cutrim, disse que existe essa preocupação com a cadeia econômica. “A preocupação é que a indevida associação do peixe como vetor da doença, aliada à proliferação de notícias falsas, possa afetar diretamente o setor primário e toda uma cadeia de produção que envolve a atividade pesqueira e o consumo do alimento no estado”, disse ele.
O representante do Ministério da Agricultura no Amazonas, o superintendente Guilherme Pessoa, reforça que o consumo de peixes vem sendo apontado “indevidamente” como culpado pela transmissão da doença. “Nos parece ainda precipitado correlacionar isso com o consumo de peixe de modo geral. Nós já temos a certeza de que peixes de tanque, da piscicultura, não existe nenhum relato no mundo que possa ser associado com rabdomiólise”, explica.

Força-tarefa

Buscando esclarecer os fatos em torno do surto, o Governo do Estado montou uma equipe de especialistas que chegaram hoje (2) a Itacoatiara para fazer investigações detalhadas. Segundo o diretor-presidente da Fundação de Vigilância Sanitária, Cristiano Fernandes, vários órgãos sanitários irão promover uma ação conjunta. “Isso envolve a produção rural, os pescadores artesanais, envolve questões relativas à cadeia econômica, mas, principalmente, a saúde pública. Nossa preocupação é com a segurança alimentar e com a saúde da população”, destacou.
Leocy Cutrim, da Sepror, confirma: “Estamos preocupados com a questão da diminuição do consumo de pescado por consequência de o estado ser um dos maiores consumidores de pescado do Brasil. A gente precisa dar essa resposta à população com tranquilidade, sem criar pânico como vem ocorrendo principalmente nas redes sociais”, disse ele.


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