Nos idos de 1.974, encontrava-me interno no Seminário João XIII, na minha querida Ilha de Parintins e recebemos, durante o carnaval daquele ano, um pregador proveniente da cidade de Manaus, Pe Antônio. Não lembro mais o seu sobrenome, mas lembro que ele era natural de um país distante e desconhecido: Birmânia.
Pe Antônio da Birmânia, aqui rebatizado poeticamente, era um homem na casa dos 50 anos, muito alto, aproximadamente 1,90, magro e por isso tinha uma corcova sobre os ombros.
O seu lema, a sua pregação para nós seminaristas nesse ano foi: se você quer ser padre esqueça que tem pau. Para abordar o tema castidade e celibato por três dias.
Após o pregador voltar para Manaus, brincávamos entre a gente, perguntando um para o outro:
- Já esqueceu teu pau?
E a resposta, às vezes, era: - Ainda não. E com que vou mijar?
Levamos o resto do período tratando esquecer que tínhamos pau.
Nas férias de junho/junho daquele ano vim para Manaus para ficar com minha mãe, Maria Farias, meu pai Homero Melo e meus irmãos que haviam migrado em 1.969.
Ao chegar em Manaus, minha saudosa tia Lita Melo, muito beata, me convidou para ir à missa das 19:00, na igreja Nossa Senhora de Nazaré, na Vila Municipal, sede espiritual dos padres do Pime-Pontifício das Missões, congregação religiosa que missionava em Parintins.
Em Manaus, morávamos na rua Santa Isabel, no bairro da Cachoerinha. Tomamos o ônibus para a Vila Municipal. Ao descer do ônibus, para chegar a igreja temos que atravessar a Praça Nossa Senhora de Nazaré, que hoje possui uma bela estátua da Santa que dá nome a igreja. Nessa travessia, mesmo com a pouca luz da boca da noite, vislumbramos um homem magro, alto, com a corcova nos altos dos ombros, abufelafo na boca de uma estudante com a farda do Colégio Ângelo Ramazzotti. Mesmo de costas veio a minha cabeça a imagem do Pe Antônio. Mas, para não ficar nenhuma dúvida, cheguei perto do casal e perguntei:
- O senhor não é o Padre Antônio, da Birmânia?
Ele parou de beijar a moça e me encarou: - Sim. Qual o problema?
- O senhor não é aquele padre que pregou em Parintins, para nós seminaristas, que o homem que quiser ser padre tem que esquecer que tem pau?
- Sim, meu filho, mas qual o problema?
- O problema que estou vendo que o Senhor é um padre, é um pregador e é um homem que não esqueceu que tem pau.
E ele rindo, abraçando e se afastando com a estudante, disse me virando as costas: - Meu filho, faça o que eu disse, não faça o que eu faço!
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