fbpx
WhatsApp Image 2022-12-03 at 10.41.07
Cinquenta e seis anos depois...

Por: Robério Braga

Membro da Academia Amazonense de Letras (AAL), advogado e ex-secretário de Cultura do Amazonas

Eleições de boi bumbá

bumbodromo

Começam a ferver os ânimos na bela ilha Tupinambarana, a cidade de Parintins, terra de mestre Waldir Viana que rezava, curava, benzia, pegava desmentidura e conhecia o segredo das plantas e ervas medicinais, muitas delas plantadas no quintal de sua própria casa, e assim procedia desde há muitos anos, sempre com êxito em suas investidas as quais lhe rendiam agradecimentos e preces dos favorecidos.

Lembro bem de vê-lo atuando quando em algumas visitas que fiz a sua casa de residência acompanhando meu amigo e governador Paulo Pinto Nery, que o procurava para abraço fraterno como antigo correligionário de campanhas políticas, sendo sempre bem recebido com sorrisos largos, papos longos e café bem quentinho.

Trata-se de terra que apaixona quem a conhece, mesmo que não tenha a oportunidade de invadir as suas intimidades em lagos, fazendas e passeios em suas cercanias ou não desfrute do prazer e da devoção de participar da festa de sua padroeira, mas é o espírito do seu povo que contagia, o ritmo de seus “dois pra lá dois pra cá” que anima o visitante e o som de sua marujada e batucada que arrepia qualquer mortal.

E é nesse mundo muito particular de uma ilha quase encantada e que é conhecida em várias partes do mundo pela festa mais popular do país que se vai travar, muito em breve, a escolha dos dirigentes das agremiações boi bumbá Caprichoso e boi bumbá Garantido. São eles que realizam espetáculos indescritíveis de beleza e arte, de cultura típica, expressão popular, musical, poética e simbólica do povo amazonense e que, todos os anos, dominam e reanimam os corações apaixonados, vermelhos ou azuis.

Mais do que animar os corações apaixonados, a festa é a sustentação econômica mais relevante do município, constituindo-se, por isso mesmo, em exemplo singular de como a arte folclórica e um espetáculo de valor mais do que centenário pode impulsionar uma cidade, sustentar esperanças e realizar sonhos.

No dia certo do fim de junho, quando rufa o tambor, a galera toda se anima porque “a festa vai começar” e ninguém consegue ficar parado no seu canto por um minuto sequer. A vibração é geral. O que deve prevalecer, e acaba prevalecendo ao final, é a criatividade e a engenhosidade da comissão de arte e seus artistas, e todo o povo se derrama em emoção. O sofrimento do ano inteiro é esquecido, torna-se página virada cedendo lugar a alegria de ver seu boi ocupar a arena e realizar sua apresentação com entusiasmo e inovação, mas com profundo respeito a certas tradições que servem de base e sustentação para o show que se vai assistir.

Na coxia devem estar os dirigentes da agremiação a tudo supervisionando, ainda que, ao mesmo tempo, estejam brincando de boi como se fazia desde antigamente em animada folia. E são estes, precisamente estes, que em breve virão a ser escolhidos pelos associados – azuis e vermelhos –, para assumirem as elevadas responsabilidades de organizar, dirigir e levar o boi para a arena em condições de boa disputa e, melhor ainda, de sagrar-se campeão.

Trata-se de eleição direta, submetida ao Estatuto bovino a qual movimenta céus e terras, mundos e fundos, ardores e paixões, amizades antigas e novas, famílias inteiras, compadres e vizinhos em busca de conquistar o privilégio – belo privilégio – de presidir a agremiação. É pleito de grande importância social, política e econômica para a população parintinense quase se assemelhando à escolha de prefeito e vereadores, certamente porque deles vai depender realização dos próximos festivais folclóricos e sobre eles vão recair os louros da vitória ou as dores da derrota. Mais que isso, é preciso que se entenda, vai recair parte do futuro dessa terra e dessa gente abençoada por Nossa Senhora do Carmo e pelos gênios da criação artística.

Que vençam aqueles que melhor possam cumprir a missão de manter esta festa de forma grandiosa e que nunca mais haja vexame para o mundo ver.

Qual sua Opinião?

Confira Também

ZFM na Carta Magna, o amanhecer de uma nova era

Por Nelson Azevedo Há exatos 35 anos, o Brasil vivenciou um marco histórico com a aprovação da nova Constituição, marcando o fim do polêmico Ciclo Militar. A figura central deste marco foi o jurista Bernardo Cabral, que com esmero e dedicação, assumiu a relatoria do processo. Seu trabalho meticuloso pavimentou o caminho para o estabelecimento de um Estado Democrático de Direito mais robusto, oferecendo um resguardo mais amplo aos direitos civis, consolidando assim, um novo começo para a nação brasileira após anos de autoritarismo. Um Programa Visionário Emergindo das disposições transitórias da nova carta magna, o programa Zona Franca de

Leia Mais

CPI das ONGs quer ouvir presidente da Foirn

Requerimento vai ser votado nesta terça-feira, na comissão Federação representa 23 povos indígenas do Brasil e 750 comunidades Valéria CostaCorrespondente Brasília (ÚNICO) – A CPI das ONGs, em curso no Senado, vai votar na reunião desta terça-feira (3), requerimento que pede a presença do presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Rodrigues Barroso, para explicar sobre os recursos investidos neste ano para financiar projetos nas comunidades indígenas.A federação representa 23 povos indígenas do país que vivem em 750 comunidades. A sede da instituição fica no município de São Gabriel da Cachoeira (a 852 km de Manaus).A

Leia Mais
Flutuantes e barcos encalhados nos rios e igarapés que cercam Manaus (Foto: Michel DAntas/AFP)

David Almeida interdita área de banho e envia água e alimentos para comunidades

Wilson Lima anuncia novo monitoramento das queimadas e atendimento a Beruri CPRM aponta que a situação vai piorar na segunda quinzena de outubro Alessandra LuppoDa redação do ÚNICO A segunda-feira (2) foi de correria entre os órgãos públicos da capital e do interior, no combate à seca, às queimadas e aos acidentes naturais. Pela manhã, o prefeito de Manaus, David Almeida anunciou que começaram hoje tanto a interdição da praia da Ponta Negra para o banho – por três meses – quanto a distribuição de água e alimentos para mais de 6 mil pessoas nas comunidades ribeirinhas de Manaus, que

Leia Mais