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COP28 e o futuro da Amazônia

Por: Michele Lins Aracaty e Silva

Economista, Doutora em Desenvolvimento Regional, Docente do Departamento de Economia da UFAM, ex-vice-presidente do CORECON-AM.

Economia das Mudanças Climáticas

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A busca incessante pelo progresso, evolução e crescimento econômico rumo ao desenvolvimento, modernidade e industrialização passou a vigorar logo após a Revolução Industrial constituindo a grande referência e padrão para o desenvolvimento da maioria dos países.

O acelerado aumento da demanda por recursos naturais vem promovendo alterações ambiental em maior velocidade, intensidade e amplitude contribuindo para a aceleração dos efeitos climáticos.

Mediante o atual cenário, apesar das afirmações acerca da existência das mudanças climáticas, pouco ou quase nada tem sido feito no que tange a incluir quaisquer alterações nas agendas governamentais. Quanto à sociedade, poucos tem a percepção da gravidade das mudanças ou mesmo dos possíveis impactos sobre o seu cotidiano socioeconômico.

“Visões míopes criam um ambiente favorável à adoção da posição de que a questão das mudanças climáticas é um problema exclusivamente ambiental, remetendo os estudos realizados a um lugar comum, um “discurso ambientalista”. Mas, é urgente compreender que apesar de possuir um componente ambiental evidente, as mudanças climáticas não são somente um problema ambiental, é uma grave ameaça ao sistema socioeconômico (MOTA, GAZONI e GÓES, 2014, p.5).

Economicamente falando, de acordo com a Agência de Risco S&P Global, até 2050, as mudanças climáticas devem provocar anualmente perdas de 4% na produção econômica global atingindo regiões mais vulneráveis do mundo de forma desproporcional. Acerca dos países mais vulneráveis, estima-se um impacto de no PIB 3,6 vezes maior do que em nações ricas.

O Relatório do Fórum Econômico Mundial alerta que países cuja economia tenha como base o setor agrícola, como o Brasil, serão consideravelmente afetadas. Uma vez que o aumento da temperatura pode reduzir a produção agrícola e elevar as perdas de maneira drástica provocando escassez de alimentos.

 Impactos sobre a atividade agrícola seja uma seca mais prolongada ou geadas mais intensas tendem a gerar inflação de produtos alimentícios (reduzindo o poder de compra das famílias pois eleva o valor dos produtos que compõem a cesta básica) pois as variações climáticas dificultam o planejamento do plantio afetando a produtividade das lavouras e as colheitas.

Ademais, cerca de 30% da produção é definida pelo clima, insumos, fertilizantes e genética e que as práticas agrícolas são responsáveis por 70% da produtividade. Dessa forma, qualquer alteração no clima afeta a produtividade independente do investimento realizado em tecnologia, por exemplo.

Secas em períodos mais quentes do ano, aumento da incidência de incêndios florestais, perda de floresta e da biodiversidade, inundações e erosões nas áreas mais baixas e próximas do litoral, aumento da incidência de doenças como malária e dengue, sazonalidade das precipitações com possíveis impactos nos fluxos de água na bacia do Amazonas e alterações na distribuição das espécies além do processo de savanização são os prováveis impactos das mudanças climáticas sobre a região amazônica (2014, p.13).

O fenômeno da seca registrado no Amazonas no ano de 2023 agravada pelo fenômeno El Niño deve impactar cerca de 520 mil pessoas sendo mais severa para a população ribeirinha que enfrenta o risco de isolamento e escassez de alimentos. Para se ter uma ideia, dos 62 municípios, 17 estão em estado de emergência e 38 em alerta.

As mudanças climáticas afetam o desenvolvimento do país fragilizando ainda mais suas economias, elevam a pobreza, a fome, a miséria e a desigualdade impactando diretamente sobre a população desassistida e regiões mais vulneráveis. Por fim, não podemos esquecer que o planeta é um sistema interconectado de forma que o funcionamento da economia depende da manutenção do equilíbrio do clima e que qualquer alteração gera um efeito em cascata de consequências graves.


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