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NELSON AZEVEDO RESPONDE Á FOLHA DE SÃO PAULO:

Por: Juscelino Taketomi

Jornalista, há 28 anos servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)

Crise climática

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Rios secos, mortandade de peixes e cidades isoladas. Mas o pior virá em 2024

Região mais do que desprezada pelo Governo Federal, a Amazônia sofre com os efeitos devastadores da crise climática. O Estado do Amazonas, infelizmente, é o que mais padece, com seus rios secando e isolando cada vez mais uma população de pouco mais de 4 milhões de pessoas.

Na terça-feira (26), o governador Wilson Lima e os membros da bancada federal do Estado no Congresso Nacional foram agraciados pelos ministros dos Transportes, Renan Filho, dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, com uma promessa de investimentos da ordem de R$ 141 milhões na realização de dragagens dos rios Solimões, Amazonas e Madeira. O governo Lula garantiu que, de forma emergencial, implementará medidas capazes de ajudar a navegabilidade e o transporte de mercadorias e insumos para a indústria local e fazer com que os produtos da Zona Franca de Manaus cheguem a destinos como Santa Catarina e outros estados do Sul e do Sudeste que a indústria amazonense abastece no período natalino.

A dragagem dos rios é entendida como uma prioridade máxima, quase uma questão de vida ou morte, por líderes empresariais e técnicos conceituados da região, como o engenheiro de transportes Augusto Rocha, diretor-adjunto da FIEAM (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas). Ele disse a um órgão da imprensa nacional que a forte estiagem está causando elevados prejuízos à indústria local, inclusive por conta da alta de custos logísticos. Além do custo Brasil, há o custo Amazônia, “o sobrepreço que se paga pela histórica falta de investimentos na região”, apontou o engenheiro.

Para Rocha, a dragagem é extremamente necessária e deveria ter sido feita ontem dado o quadro de crise climática e tendo em vista a dificuldade de escoamento dos produtos industriais. Conforme ele, a dragagem não é um processo simples, sendo importante observar a realização de um sério e responsável trabalho de monitoramento prévio dos rios para que o serviço ocorra de modo eficiente, com dados seguros. A dragagem, neste momento, é algo urgente, precisa ser feita agora em função de demandas prementes, mas, claro, o ideal, em breve futuro, seria um maciço investimento em infraestrutura hidroviária, o que jamais aconteceu no Norte amazônico. O que temos até o presente contexto são rios navegáveis, ou precariamente navegáveis, apenas isso. Nunca tivemos hidrovias.

Braga, Omar e Marina

Sobre a dragagem, o senador Eduardo Braga (MDB), presente na reunião de terça com Wilson Lima e ministros, advertiu que ela não será instantânea como muitos pensam e a indústria necessita. “Quando vier a dragagem, virão as exigências ambientais”, disse Braga, chamando atenção para o risco de a questão ser protelada por tempo absurdo devido a má vontade da ministra do Meio Ambiente Marina Silva, adversária contumaz do Amazonas.

A propósito de Marina, não só Braga, mas outros parlamentares do Estado também criticaram duramente a ministra durante esta seaman. O senador Omar Aziz (PSD), coordenador da bancada amazonense no Congresso Nacional, acusou Marina de boicotar deliberadamente a BR-319 cujo Trecho do Meio ela não permite que seja pavimentado ou asfaltado enquanto não se atender as premissas burocráticas exigidas pelo Ministério Público Federal e pelo Ibama, apesar de a BR existir desde a década de 70 e já possuir licenciamento ambiental. Braga expressou: “Se o único acesso terrestre entre a capital amazonense e o resto do Brasil estivesse devidamente asfaltado, como reivindicamos há muito tempo, não veríamos milhares de amazonenses enfrentarem tantas dificuldades sociais, econômicas e ambientais, que acabam se agravando em função da seca”. O deputado federal Capitão Alberto Neto (PL) foi outro que detonou a ministra chamando-a de “inimiga do Amazonas”.

Marina, portanto, poderá travar a dragagem reivindicada pela comunidade empresarial do Estado e agravar a crise da indústria que será obrigada a amargar prejuízos milionários. Preocupada com pedras, troncos e bancos de areia, a Marinha do Brasil já proibiu a navegação noturna nos rios da região. Por isso, o Governo Federal deve agir com pressa para normalizar a vida das embarcações de Norte a Sul do Estado. Se demorar, as tragédias se multiplicarão.

Escassez de alimentos e água potável

O desabastecimento de alimentos e escassez de água potável já são uma realidade. Desde o início de agosto centenas de peixes morrem nos igarapés de Iranduba e no Lago do Piranha, em Manacapuru em consequência do calor anormal. No Lago de Tefé, com o Ibama inerte, morrem botos e peixes-bois. Com os peixes mortos, a água é contaminada, ficando inviável para o consumo humano. Conforme estudos da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), neste período, a seca não só é responsável por danos irreparáveis à navegação como, também, acirra o desmatamento e as queimadas, gerando as cortinas de fumaça que cobrem as cidades do Estado, tornando o ar irrespirável.

A seca deste ano quebra paradigmas diariamente. O Rio Negro está com sua cota bem abaixo do que registrou em 2022. Na mesma situação estão os rios Amazonas e Solimões. Chegou ao governador Wilson Lima um amplo relatório diagnosticando que a estiagem de 2023 afetará 500 mil pessoas. Ele tenta fazer sua parte diante da gritaria de empresários, prefeitos e vereadores que reclamam providências emergenciais para evitar o pior.

Cidades e mais cidades declaram situação de emergência face a estiagem. Mais de 20 mil crianças não conseguem mais ter acesso às suas escolas. Com os rios secos, as cidades ficam isoladas, sem insumos, alimentos, água, mercadorias e sem condições de transporte. Se os rios não forem dragados, o caos virá com certeza.

Em 2024, o pico do El Niño

O caos que se aproxima pode ser vislumbrado a partir de dados divulgados pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), mostrando que o fenômeno El Niño, culpado de tantas maldades este ano, atingirá o seu pico no verão de 2024, provocando situações climáticas extremas. Ou seja, o que está ruim, catastrófico, poderá ficar pior no ano vindouro.

Essa é a posição de órgãos como o International Research Institute (IRI), da Escola de Clima da Universidade de Columbia, em Nova York, Estados Unidos, segundo o qual no último trimestre deste ano a intensidade do El Niño aumentará, e, com a alteração da temperatura da superfície do mar de +1,67ºC, surgirá um Super El Niño.

Se o instituto norte-americano tiver razão, haverá uma perigosa elevação de chuvas e temperaturas em todo o Brasil ao longo de todo o primeiro semestre de 2024. A região Sul terá chuvas anormais, o Sudeste enfrentará forte calor, o Nordeste virará um inferno. O Norte não será menos castigado. A NASA assegura que 2024 será o ano mais quente da história do planeta Terra e avisa que essa crise climática vai durar até 2027.


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