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Confissões de Agostinho

Por: Carlos Santiago

Sociólogo, Analista Político, Advogado e Membro da Academia de Letras e Culturas da Amazônia – Alcama.

Confissões de Agostinho

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Diz um ditado popular que o homem é mais filho de seu tempo do que filho de seus pais. O momento histórico, os lugares, o encontro de culturas, os ambientes político e social, o letramento escolar, a relação familiar, as religiões, os pensamentos filosóficos e as experiências de vida, constroem o entendimento do pensador sobre o mundo das impressões exteriores e da mente humana, além da relação com a possível divindade.

Depois de uma leitura da tradução da obra Confissões (1980), de Agostinho de Hipona (354 D.C.- 430 D.C.), na qual ele faz relatos autobiográficos sobre a sua construção intelectual, pecados carnais, conversões religiosas e, em especial, o seu encontro com o Deus católico, podemos indicar, resumidamente, que foram duas vidas: uma buscava a verdade a partir do mundo exterior, na vida material; e outra, buscava a verdade por meio do seu interior, da alma e mente.

Ele nasceu em 345 D.C., em Tagaste, no norte da África, na cidade da Numídia, onde é hoje o estado da Argélia, uma região que era dominada pelo Império Romano. Ele era filho de um comerciante pagão que depois se converteu ao cristianismo, e de Mônica, uma fervorosa cristã.

Estudou em Tagaste e, depois, na cidade de Madaura. Teve uma educação helenista. Retórica, poesia e obras de pensadores latinos, como as de Virgílio, além de música, física, matemática e filosofia, foram algumas áreas de conhecimento. Aos 17 anos, foi para Cartago estudar. Conheceu o pensamento de Cícero, por meio da leitura da obra Hortensius, em que o autor romano convida as pessoas a pensar filosoficamente para chegar à felicidade. A obra de Cícero fez Agostinho buscar a filosofia, mas esse caminho da verdade indicado por Cícero estaria no mundo material.

Agostinho converteu-se ao Maniqueísmo. Uma doutrina religiosa dualista que defende dois princípios opostos, em geral, o bem e o mal. Doutrina fundada na Pérsia por Maniu Maquineu, no século III, com forte presença em todo o Império Romano. No Maniqueísmo, somente a Alma é boa, e o corpo é intrinsecamente mau. A verdade ainda vinha da exterioridade.

Em Roma, Agostinho fundou uma escola de retórica e entrou numa fase cética. Ele pensava que muitas verdades eram inalcançáveis pela condição humana. Esteve também próximo do hedonismo, no qual as emoções e prazeres diversos são os sentidos da vida. Mais prazer, menos sofrimentos, diz o lema do hedonismo. Mas, tanto o hedonismo quanto o epicurismo não eram a chave para conhecer a verdade de Deus, segundo Agostinho, pois potencializavam muito o mundo exterior, o mundo material.

Já em Milan, aconteceu uma mudança substancial na vida de Agostinho, depois da leitura de obras neo-platônicas. Obras de Plotino e de seu discípulo Porfírio. Os neoplatônicos foram fundamentais para Agostinho buscar a verdade imutável a partir da razão, da mente e do autoconhecimento. O mundo metafísico de Platão, com um arranjo pelo neoplatonismo, foi importante para Agostinho tratar a verdade a partir da interioridade.

Agostinho teve ainda, para a sua conversão ao cristianismo, as contribuições de Ambrósio, um grande conhecedor do cristianismo e de obras dos neoplatônicos, e com uma retórica reconhecida, e de sua mãe. A partir daí, ele fez uma releitura filosófica e teológica do Velho Testamento. Chegou a seguinte reflexão: é no interior do homem que habita a verdade, a verdade é Deus.

Ainda, na obra Confissões, Agostinho reflete sobre o mal, um tema que tanto lhe causou angústia espiritual e desafio intelectual. Para ele, Deus não criou o mal. Deus é só bondade! Deus deu ao homem o livre arbítrio. A liberdade e a racionalidade também. A liberdade é a possibilidade de escolha. No aspecto metafísico o mal não existe como substância. O mal estaria no mau uso do livre arbítrio. E, quando o homem se afasta do mal, ele estará mais próximo de Deus.

Sobre o tempo, ele define que a eternidade não tem início e nem fim. Deus é eternidade. O tempo existe porque é medido e sentido pelos humanos. O tempo passado não existe e nem o futuro. O tempo presente é pretérito num piscar de olhos. Deus é atemporal. Deus fez o tempo, mas o termo tempo não se aplica ao criador, Deus.

Portanto, na obra Confissões, Agostinho de Hipona, narra a sua busca da verdade, que é Deus. Levando em consideração seus prazeres carnais, suas conversões e rupturas com vários pensamentos e credos, como o Ceticismo, o Materialismo, o Naturalismo e outras ideias e filosofias que refletiam o mundo exterior, a partir dos sentidos; e depois, no mundo da alma, com ajuda da razão, da sabedoria, ele encontra a luz imutável que é Deus.

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