A notícia do ingresso de novos países no BRICS ao longo da 15ª Cúpula, realizada em Joanesburgo, na África do Sul, provocou alvoroço acerca de uma possível alteração no acrônimo já consolidado no mercado. a partir de 2024, Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã serão membros permanentes.
Pouca gente conhece a origem dos BRICS. A ideia foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O’Neil, através de um estudo publicizado, em 2001, no meio econômico-financeiro, empresarial, acadêmico e de comunicação, intitulado: “Building Better Global Economic BRICs”.
Posteriormente, em 2006, o conceito apresentado pelo economista originou um agrupamento entre os seguintes membros: Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011, devido à reunião da Cúpula, a África do Sul passou a integrar o grupo dando origem à sigla atual com a inicial dos países membros: BRICS.
Ressaltamos que o agrupamento tem um caráter informal uma vez que, não dispõe de um documento constitutivo e nem de um secretariado fixo, mas tem um banco (Banco dos BRICS ou Novo Banco de Desenvolvimento) e se destaca pelo grau de institucionalização através da interação entre os seus membros.
O peso econômico dos BRICS é grandioso, não passa despercebido e é objeto de preocupação por parte dos países que integram o G20. O Produto Interno Bruto (PIB) do BRICS, atingiu US$ 25,9 trilhões no ano de 2022.
A soma de tudo o que foi produzido pelos 5 países membros no ano passado representa 25,5% da atividade econômica global. A coalizão é considerada relevante não somente pelo seu peso econômico e reformista, mas também pelo caráter geopolítico a partir de uma redistribuição internacional.
Os novos membros despertam preocupação tanto na comunidade internacional acerca das sanções americanas sobre o Irã, por exemplo, bem como das divergências deste último país em relação aos demais membros tais como: Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos o que torna o agrupamento cada vez menos coeso.
Juntos, os membros atuais somam 3,23 bilhões de habitantes o equivalente a 40,7% da população mundial o que lhes garante um papel relevante no avanço econômico, demanda mundial, aumento de produção e emprego dispondo de um volume expressivo de capital humano jovem e de qualidade (PEA – População Economicamente Ativa).
Acerca do futuro do grupo, em função desta nova coalizão, espera-se que tal movimentação gere um polo de investimento e equilíbrio na estrutura internacional alterando a geopolítica mundial.
Ao fim da Cúpula, pouco se avançou acerca das discussões de alternativas ao dólar, adesão a uma moeda única bem como das negociações acerca do conflito entre Rússia e Ucrânia que ficaram em segundo plano. Esta nova configuração amplia o bloco, favorece a China, mas o futuro dependerá da exploração de novas rotas comerciais desconhecidas pelos atuais países membros.
MICHELE LINS ARACATY E SILVA, Economista, Doutora em Desenvolvimento Regional, Docente do Departamento de Economia da UFAM, ex-vice-presidente do CORECON-AM.