BNDES empresta R$ 29 milhões para desmatadores da Amazônia

Fazendeiros irregulares compram tratores com dinheiro público

Infratores ambientais de Mato Grosso e Rondônia têm crédito liberado pelo Ibama

Cientista Philip Fearnside diz que é “dinheiro do contribuinte que está desmatando”

Andressa Santa Cruz, Naira Hofmeister e Pedro Papini
Do Portal UOL

Fazendeiros flagrados pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) desmatando a Amazônia conseguiram empréstimos com dinheiro público a juros subsidiados para comprar tratores e outras máquinas agrícolas, apesar de seu histórico de reiteradas infrações ambientais.
Os empréstimos foram concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e operados pelo banco John Deere, que é o braço financeiro da fabricante de máquinas que o controla e que vendeu os tratores.
Ao todo, BNDES e John Deere financiaram R$ 28,6 milhões em maquinário para cinco produtores dos estados do Mato Grosso e Rondônia, na fronteira com o sul do Amazonas – área problemática em relação ao desmatamento, ao avanço do arco da soja e da área de influência da BR-319. Todos os cinco fazendeiros têm embargos em seu nome emitidos pelo Ibama por desmatamento.

Resolução do BC

Uma resolução do Banco Central do Brasil veda a concessão de crédito rural para propriedades na Amazônia sobre as quais recaem embargos, mas não impõe restrições para que os donos dessas áreas obtenham empréstimos para outras fazendas. Porém, entre os casos levantados pela reportagem, há empréstimos destinados a locais onde o produtor possui apenas uma propriedade —e embargada.
O mapeamento feito pela Repórter Brasil, com base na plataforma de dados Florestas e Finanças, mostra ainda financiamentos para produtores que deram um calote no Ibama.

Dinheiro do contribuinte

Ao todo, 11 fazendeiros que compraram máquinas John Deere acumulam um total de R$ 31,4 milhões em multas ambientais nunca pagas — o montante total dos empréstimos do BNDES, R$ 39,7 milhões, daria para quitar as dívidas com sobra. “É dinheiro dos contribuintes para o agronegócio que está desmatando”, critica Philip Fearnside, cientista do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia e vencedor do Nobel da Paz com a equipe do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas) em 2007.

Cientista do Inpa, Philip Fearnside, destaca que o dinheiro é do contribuinte

O que dizem os bancos

O BNDES informou que exige dos tomadores de crédito “declarações em que se ateste a inexistência de infrações de natureza ambiental” e que, em contratos na modalidade indireta automática, como é o caso, a responsabilidade de verificar “o atendimento de tais exigências” é do banco parceiro, no caso o John Deere.
Apesar disso, em sua página na internet, o banco público admite que a aprovação do crédito é sua responsabilidade: “Passo 4: O BNDES avalia a solicitação, observa se está de acordo com as normas e, em caso positivo, autoriza o financiamento”.
O banco John Deere, por sua vez, declarou que “cumpre rigorosamente” as normas para concessão de crédito, “com avaliação criteriosa da área que será beneficiada com determinado produto”. As manifestações completas podem ser lidas neste link.


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