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Todos contra David Almeida?

Por: Carlos Santiago

Sociólogo, Analista Político, Advogado e Membro da Academia de Letras e Culturas da Amazônia – Alcama.

Beleza e Ignorância

belezza e ignroncia

Por Carlos Santiago

   Há cerca de seis anos, depois de breve reunião com o meu sócio de escritório, resolvi almoçar em um restaurante sofisticado, no bairro Vieiralves. Sentei-me à mesa e de repente entra no local uma linda mulher, deixando os clientes e funcionários em silêncio, por segundos. Uma beleza comparada somente a Angelina Jolie, a Jeniffer Lopes e às minhas ex-colegas gatas do curso de letras da Universidade do Estado do Amazonas - UEA.

       Olhando aquela criação do sagrado e do profano, num mundo de deuses e diabos, a minha mente já processava uma possível relação fluida e de vivenciar um afeto intenso, mas sem um compromisso estável ou jaulas sociais. Desejava um amor líquido, fluido, sem forma e sem solidez.

      Numa vida da modernidade líquida onde o trabalho é temporário, na qual as incertezas são as únicas certezas, em que o indivíduo tem que se reinventar para sobreviver e o Estado deixou de oferecer mais proteção social e o futuro é o agora, como diz o sociólogo Zygmunt Bauman. Então, como não pensar num amor líquido!

         Pois bem, para meu espanto, ela pediu pra sentar-se à “minha” mesa; o restaurante estava cheio. Não tive dúvidas: ela era a mulher com uma estética perfeita, e tinha um cheiro..., pronto para a mais perfeita reprodução humana.

      Logo mudei de ideia. Fiquei conectado nela. Não queria desconectar e nem transformar aquele encontro casual num mero consumo de corpos, numa vida urgente, definido somente pela fluidez e momentos. Pretendia algo estável e eterno.

       Arrumei a gravata vermelha e com muitíssima gentileza perguntei-lhe: tudo bem com você, moça? Ela respondeu que estava tudo bem de saúde, mas que não estava contente com o nosso país. Falou que preferiria viver num Brasil administrado por militares, sem bolsas de Prouni, sem bolsa-família para pobres, sem cotas para negros nas faculdades, sem sindicatos de empregadas domésticas, e que achava um absurdo o Brasil ser governado por uma mulher.

     Ela disse ainda que tinha preferência por políticos, que além de defender a morte de todos os presos, também defende a lógica de que o pobre só é pobre porque quer. 

    Eu fiquei ouvindo atentamente e, a cada palavra daquela mulher, a cada conteúdo das suas expressões, eu refletia que a beleza é algo bem relativo. Na verdade, nunca me importei com o padrão estético do ser humano, muito menos com crenças, classe social e cor para um relacionamento, mas sempre tive um amor por quem tem espírito de fraternidade e uma sensibilidade política.

       Até porque viver num país com a naturalização das desigualdades, da enorme pobreza, das violências domésticas, da corrupção institucionalizada, de péssimo sistema educacional, de precária saúde pública e de políticos eleitos que riem das mortes de pessoas por Covid-19, uma sensibilidade política pode levar aos verdadeiros culpados por todas as mazelas brasileiras.

     Depois que a moça terminou de falar dos seus sentimentos políticos e sociais, gentilmente disse-lhe que respeitava as suas posições e que os únicos elementos estáveis nos dias atuais são as crenças no consumo e no dinheiro como balizadores do nosso padrão de vida, mesmo numa modernidade dita líquida.

     Mas, a conversa não avançou. Pedi licença e saí do restaurante. Lembrei-me de um compromisso urgente e de ter deixado na geladeira de casa um prato com uma deliciosa feijoada do dia anterior. Então, não era mais tão conveniente continuar naquele restaurante sofisticado. 

     Antes de sair do recinto, olhei para trás, a moça já tinha outra companhia no almoço, um rapaz jovem, e sorriam, pareciam estar numa conversa prazerosa. E foi assim, o meu encanto por ela foi tão veloz, quanto o meu descanto. Desconectei e fui embora.

Sociólogo, Analista Político e Advogado


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