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Crise climática

Por: Juscelino Taketomi

Jornalista, há 28 anos servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)

A tragédia indígena do Xingu a Roraima

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Com profunda tristeza e revolta, li um excelente artigo do jornalista e ex-deputado federal Fernando Gabeira, publicado nas páginas de O Globo, sobre os indígenas do Xingu. Gabeira foi até lá participar de importante evento que debateu candentes questões envolvendo os povos da região banhada pelo Xingu, um dos mais belos rios brasileiros semidestruído pelas hidrelétricas, pelo garimpo ilegal de ouro e pelas atividades dos grupos gananciosos que desmatam absurdamente a região para faturar milhões com o comércio da soja.

O evento teve a chancela do cacique Raoni, de 94 anos, um velho e grande guerreiro kayapó que dedicou a vida à nobre causa de um povo massacrado pela discriminação de toda sorte desde que o Brasil foi descoberto. Raoni Metuktire é um líder mundialmente respeitado e admirado, tendo sido agraciado com o título de Membro Honorário da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em 2021. No ano anterior, em plena pandemia do novo coronavírus, esteve na lista dos cotados para o Prêmio Nobel da Paz.

Velho, mas não cansado, Raoni descortinou a Gabeira o gigantesco drama dos indígenas que habitam o Xingu, onde 16 etnias se esforçam, usando o conhecimento de seus ancestrais, para tentar impedir que o desmatamento e queimadas da região agravem os problemas climáticos na Amazônia. No entanto, os esforços, reconhecidamente nobres, têm perdido a batalha para os barões da soja que cada vez mais devastam o entorno do Xingu. Em 20 anos, 189 mil hectares de floresta foram dizimados pelas chamas da ganância.

Estabelecer um paralelo dos povos de Raoni com a tragédia de 28 mil Yanomami roraimenses não é exagero nenhum, acredito eu. O paralelo pode ter bastante sentido. Se em uma região, a maldição do fogo é constante, afetando até os festejos do Quarup, uma das ricas manifestações culturais da Amazônia, do outro a desnutrição, a malária, pneumonia e verminoses também destroem toda uma tribo cada vez mais à mercê do garimpo. Ali a desnutrição castiga mais de 50% das crianças indígenas.

Se no Xingu há drama, desespero e lamentação, em Roraima, no arco Norte do país, o quadro não é diferente. Pena que em Brasília o Ministério dos Povos Originários não consegue impor as demandas emergenciais pertinentes aos problemas de Raoni e sua gente e tampouco tem condições de forçar a barra de instâncias estratégicas e importantes do Governo Federal para ajudar a fazer avançar medidas que possam ir além dos procedimentos já adotados em relação aos Yanomami, que vivem como verdadeiros párias nas mãos de mais de 20 mil garimpeiros criminosos que, sob a batuta do crime organizado, continuam a devastar uma terra de 9 milhões de hectares, um imenso latifúndio com indescritíveis reservas de ouro em seu subsolo, situado entre os estados do Amazonas e Roraima, na fronteira com a Venezuela.

O drama dos povos do Xingu, em muitos aspectos, não é diferente dos povos Yanomami de Roraima. A contaminação de rios é igual nas duas regiões, impactando o meio ambiente amazônico. A crueldade perpetrada pelos barões da soja no Mato Grosso não é menos desumana que a crueldade cometida pelos garimpeiros no território roraimense. As tragédias se assemelham e as providências oficiais são insuficientes para o tamanho delas.

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