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Casa de Bernardo Ramos

Por: Robério Braga

Membro da Academia Amazonense de Letras (AAL), advogado e ex-secretário de Cultura do Amazonas

A simpatia do Pelé

Pelé

Tenho lido algumas referências ao fato de que Edson Arantes do Nascimento, reconhecido internacionalmente como Pelé, seja como atleta ou na condição incontestável de cidadão do mundo, sempre se comportava com simpatia, elegância, educação esmerada e sem arrogância, em qualquer situação. O que realçava era a simplicidade do ser humano, não a condição de desportista de prestígio inigualável.

Essas características demonstram o caráter de um homem que, mesmo tendo alcançado os pícaros da glória na profissão a que se dedicou deste muito jovem e em razão da qual projetou o Brasil demonstrando o valor do esporte até na diplomacia, não viveu o triste deslumbre de alguns nem tão notáveis.

Em razão de experiência pessoal posso confirmar ter sido esta a conduta de Pelé quando da passagem da seleção brasileira de futebol por Manaus para disputar a Copa Mundial de Futebol no México, em 1970. É que nessa curta temporada pela capital amazonense a delegação nacional fazia as refeições em uma casa de comida chic e classuda de nossa cidade: o Restaurante Chapéu de Palha.

Digo isso porque meu queridíssimo irmão José Braga, naquela época, havia decidido ser empresário e, com sua enorme capacidade criativa, desenvolveu a ideia de um restaurante moderno, chic e típico, que representasse o tradicional chapéu do homem amazônico e respondesse a antiga forma usada por muitas famílias para criar salões de convivência em balneários da nossa região. E foi isso que acabou por ser edificado em área nobre da Vila Municipal ou Adrianópolis. Foi esta a ideia central que ele apresentou ao premiadíssimo arquiteto Severiano Mário Porto de quem mereceu o traço e os estudos técnicos e detalhes especiais de arte que, de tal monta e qualidade, acabou por obter Prêmio Nacional de Arquitetura.

E foi nesse importante ponto turístico e gastronômico – infelizmente demolido anos mais tarde para dar lugar a um posto de gasolina, por responsabilidade dos novos proprietários, quando José decidiu afastar-se do ramo – foi nesse local, repito, entre maravilhado e sensível à iniciativa e à qualidade do restaurante, que Pelé aceitou o pedido e se postou para fotos usando um tradicional chapéu de palha amazonense, antes de ser o maestro do tricampeonato brasileiro de futebol na cidade de Guadalajara, ao lado de outros geniais atletas como Gerson, Félix, Carlos Alberto, Clodoaldo, Everaldo, Rivelino, Brito, Piazza, Tostão e Jairzinho.

Sorriso aberto, porte elegante, com a força da juventude que carregava a esperança e a confiança de bons resultados nos campos mexicanos, Edson-Pelé quase se fez caboclo valendo-se de adorno típico regional, e foi aplaudido pelos companheiros de delegação. Confesso aos leitores que, embora rapaz e frequentador assíduo do restaurante, notadamente naqueles dias de encanto com a presença de tão nobres visitantes, não tinha na lembrança esse momento quase solene, porém descontraído e que foi experimentado por quantos nos encontrávamos naquele almoço. Quem me trouxe o fato à lembrança foi o idealista José Braga em conversa recente quando da despedida do Rei do Futebol que acabara de se transformar de ídolo humano em luz estelar para rebrilhar em outros planos.

Para reconfirmar a postura gentil e educada de Pelé e que tem sido realçada por desportistas, jornalistas, articulistas de jornais e revistas e quantos tiveram o privilégio de conhecê-lo mais de perto, é que resolvi contar este episódio neste canto de página que tenho o prazer de ocupar.

Portanto, o simpático Pelé posou de caboclo em plena floresta amazônica, sem perder a simplicidade e a majestade.

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