Esperava-se que, pelo menos na semana santa, o sentimento da tal cristandade se elevasse ao ponto de dar um basta na carestia desumana, que nos castiga diariamente, e brindar multidões de infelizes famintos com um mínimo de justiça social.
Mas não é assim que as coisas funcionam. Aliançada com os poderes políticos do mundo, a Igreja Católica fecha os olhos, faz de conta que não tem nada a ver com isso, limitando-se apenas a fazer apelos de salão clamando pelo fim das desigualdades sociais, mesmo que ela mesma prontifique no alto do ranking dos poderes mais bem aquinhoados da Terra.
É essa Igreja a primeira a explorar a fé de milhões de incautos. É assim em todo lugar, e pior ainda no Brasil.
Nesta data, o preço do peixe vai a estratosfera, o consumo de carne é proibido e o frango acompanha o ritmo avassalador do peixe. Ninguém segura a carestia, mas todo mundo vai à Igreja rezar por dias melhores, todo mundo vai ouvir os sermões imbecis de sempre, sem que nada disso mude sua vida.
Nas longas e modorrentas missas que permeiam essa data os padres censuram as injustiças e condenam a violência com um cinismo jamais visto, como se não fosse a Igreja que defendem a principal fomentadora da violência, por ganância e poder, em escala planetária.
Esse é o retrato da Igreja Católica Apostólica Romana, que o imperador Constantino tomou para si e cujos dogmas ele explorou, como um maestro, para seus caprichos e interesses de riquezas.
É esse o retrato de uma Igreja que professa a caridade, mas não a pratica, que crítica os ricos, mas não renuncia ao seu patrimônio bilionário. É essa a Igreja que repudia a violência, mas que impôs ao mundo a famigerada Inquisição e as cruzadas.
Nesta data, reflitamos e reavaliemos nossas jornadas neste mundo, que, no meu entender, seriam mais racionais livres dos dogmas com que os líderes religiosos controlam as pessoas, tratando-as como meros robôs em nome de Jesus.
Este, por sua vez, é a maior vítima do espetáculo sórdido que os católicos promovem na Semana Santa. Em nome dele comemora-se uma tragédia – a odienta crucificação -, quando o certo seria exaltar, seguir e cumprir seus ensinamentos. Mas isso implicaria em esclarecer o povo, despertá-lo para as ações políticas e sociais verdadeiramente transformadoras, o que, em última palavra, não interessa aos seus manipuladores.